COMO LER UM LIVRO DE POESIA
Recomenda o bom gosto e o
bom senso que o
leitor faça as leituras
na ordem constituída
e na tessitura proposta
pelo autor.
No entanto, não raros
leitores não se apegam
a tais convenções,
folheando desavisadamente o
livro e esperando que
alguma pétala exploda.
Há livros de poesia
que demandam
uma relação carnal
enquanto outros são
pluma no vagão de um metrô.
Acontece a muitos livros
não se desvendarem por completo
de uma vez, sendo degustados aos
poucos no passar dos anos e horas.
Isso pois um livro de poesia
é também um oráculo
que consulto para saber
como vai ser meu dia -
mais até do que a astrologia!
A poesia é um libelo contra
a verdade constituída,
uma armadilha pronta para pegar
um incauto ou mesmo uma
avalanche soterrando sentidos.
POR QUE LER OS CLÁSSICOS
É que hoje os dias
são mais breves e
a cada passo estreita
o precipício.
E a vida às vezes
bate firme
e é preciso ter
pescoço duro
pra não ir a
nocaute.
Não se deve jogar
esperando ter o
nome em uma placa
dourada brilhante.
Um diamante é
sempre rígido e constante
e mesmo bruto
carrega em si o peso
de sua glória.
Pois mesmo que falsários
escondam do sol a
sua luz
a chuva sempre lava
a terra e após a
enchente dentro da lama
a vida guarda suas
sementes.
Jardim Minado
O amor
este
jardim minado
por onde
caminhamos abraçados
lado a lado
com o inimigo.
Este conto
de safadas
farsa
mal contada
- mentira reinventada
na qual
sempre acabamos
caindo
novamente.
Olha,
olha ali.
Do outro
lado da pista!
Não é ali?!
não é ali?!
que morreu
o coração
atropelado por um taxista?
dos livros - Casa Mata de Si e Jardim Minado
Pedro Tostes é
poeta reincidente e insistente. Graduado Nos Rolês com PhD em Pilantropia
Cultural. Seus crimes foram mais conhecidos como "o mínimo" (2003),
"descaminahr" (2008), "jardim mminado" (2014) e esta mais
recente contravemção "na casa mata de si" (20019) pela Editora Patuá.
Foi detido, averiguado e apresentado pelas atoridades por porte e
comercialização de livros em prestigiosa Festa Literária. Com a organização
delituosa "Poesia Maloqueirista", entre outros crimes, editou a
infame revista "Não Funciona", querealizou 20 golpes de 20 mil
incidências literárias na primeira década do século. Apesar de aparência dócil
e gentil, o indivíduo citado apresenta alta periculosidade. Sua cabeça está a
prêmio. Caso o encontre, favor informar às autoridades.
poema atávico
e se a gente se amasse uma vez só
a tarde ainda arde primavera tanta
nesse outubro quanto
de manhãs tão cinzas
nesse momento em Bento Gonçalves
Mauri Menegotto termina
de lapidar mais uma pedra
tem seus olhos no brilho da escultura
confesso tenho andado meio triste
na geografia da distância
esse poema atávico tem
a cor da tua pele
a carne sob os lençóis
onde meus dedos
ainda não nasceram
algum deus
anda me pregando peças
num lance de dados mallarmaicos
comovido
ainda te procuro em palavras aramaicas
e a pele dos meus olhos anda perdida
em teu vestido
Artur Gomes
Do livro O Poeta Enquanto Coisa
Editora Penalux – 2020
Leia mais no blog
https://fulinaimagens.blogspot.com/
o que vai
de um lado da ponte
a outra
é o que sai da boca
o que entra é a língua
a que entorta
beija sem pedir licença
chupa morde goza
na entrada e na saída
sem ter adeus na despedida
Artur Fulinaíma
do livro inédito
- FULINAIMAGEM
ando
tão tenso
nesse tempo
estático
Artur Gomes
O
Poeta Enquanto Coisa
pele grafia
poema: Artur Gomes
arte: Cláudia Lobo
suspenso
no Ar
não penso
atravesso
o portão da tua casa
o corpo em fogo
a carne em brasa
tudo arde
nas cinzas das horas
no silêncio da tarde
vou entrando sem alarde
sem comício
como o pássaro
que acaba de cantar
em pleno hospício
você pensa que escrevo em rua reta ou estrada
sinuosa para você poesia é verso do inverso ou avesso de uma prosa? escrevi
pscanalítica 67 em mil novecentos e sessenta e sete numa madrugada de setembro
outubro quando visitei meu pai no henrique roxo e vi vespasiano contra a parede
dando cabeçadas no manicômio mais uma vida exterminada e no fim das contas
noves fora nada tudo o que eu queria dizer naquela hora explode agora quando
atravesso o portão da tua casa o corpo em fogo a carne em brasa sem pensar
estética estrutura estilo de linguagem sinto o desejo entre os teus mamilos a
espera do beijo da esfinge que devora
Artur Gomes
PoÉticas ArturiAnas
Artur Gomes, um
poeta campista no palco da memória
por Deneval Siqueira
Artur Gomes é poeta de longa ancestralidade e
forte techné, e sempre nos brinda com sua poíesis de tom ritmado na pesada
musicalidade de herança oral. Campista goitacá, em 2020, lançou, O Poeta
enquanto Coisa, cuja Psicótica – 67 transcrevo abaixo.
Psicótica – 67
com os dentes cravados na memória
não frequento academias
físicas – e muito menos literárias
minha palavra avária
está à beira do precipício
nem sei porque não continuei
internado no hospício
onde choques elétricos aconteciam as tantas
no manicômio Henrique Roxo
na cidade de Campos dos Goytacazes
onde a medicina psiquiátrica
era exercida por capatazes de médicos açougueiros
e um Capixaba de nome Vespasiano
não resistiu ao surto
explodiu a cabeça contra a parede
e nenhum jornal da cidade
noticiou o suicídio
que eu trago na lembrança
com os dentes cravados na memória
Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa
Tendo como marca registrada da sua obra o
palimpsesto e o intratexto, onde se confundem a voz do eu-lírico, refundado na
memória dos jornais, do noticiário policialesco, na jornada absurda da
crueldade a la Antonin Artaud e salpicada de telurismo, sua poética vem
sobressaltar os menos avisados.
Retomando alguns traços de Jorge de Lima e Ana
Cristina César, não fica no passado minemônico, pois seu traço lírico principal
é do poeta memorialista cultural e telúrico, de perfil universalista, pois joga
com o absurdo e com a persona teatral, desfazendo-se da loucura qualquer que
seja, pois trabalha a arte do poema com desvario lírico musical a la Bethoven, a
la Wagner, compondo uma ópera do absurdo nas memórias subjacentes.
O percurso de Artur Gomes é muito interessante e
enriquece a historiografia dos poetas brasileiros contemporâneos, assim como
Adriano Moura, Flávia D’Ângelo, entre outros não publicados ainda.
Vale a conferida. Estamos todos estasiados com o livro
de poemas O Poeta Enquanto Coisa (2020) , título que sugere a materialização da
memória no poema, de grau cabralino, e que segundo o autor-poeta “o instante
que nos obriga a ser memorialistas”. Certo. A memória não perdoa, ela finca a
faca no peito do leitor, sem sangue, mas cheia de feridas.
Deneval Siqueira
Pós-Doutor e professor Titular de Teoria e
História Literária
Centro de Ciências Humanas e Naturais
Programa de Pós-graduação em Letras - Doutorado e
Mestrado em Estudos
Literários da UFES
devorável
mais uma vez te venho
porque com essa flecha
que me acerta o peito
teu coração me devora
e me desfaz na pétala
como o vôo de um colibri
velocidade de um beija-flor
tire o seu pircing do caminho
que eu quero passar com meu amor
Artur Gomes
O
Poeta Enquanto Coisa
www.secretasjuras.blogspot.com
teu silêncio
pedra na garganta
saliva seca
nessa língua faca
por quê não canta
a dor de cotovelo?
derruba essa parede
que te cerca
desamarra essa corda
que te enforca
rasga essa mortalha
que te mata
Gigi Mocidade
Toda Nudez Não Será Castigada
Pessoas que me comovem são aquelas que vivem ou viveram com os seus fios
elétricos ligados cuspindo seus relâmpagos suas trovoadas sobre as nossas
tempestades. Sou fanático sim por blues samba reggae e rock and roll. Faço as minhas escolhas
independente do meu coração partido e sigo vivo com os Dentes cravados na
memória para nunca jamais esquecê-las. Esta foto é para rasgar o peito e deixar
sangrar poesia.
Artur Gomes
Artur
Gomes: Com os Dentes Cravados na Memória
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