quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Múltiplas Poéticas

“Muitas vezes, o amado é apenas um estímulo para todo o amor armazenado, que estava, desde há muito tempo e até então, sereno dentro do amante. E, de alguma forma, o amante sabe-o. Sente na alma que o amor é uma coisa solitária. Começa a conhecer uma nova e estranha solidão e é esse conhecimento que o faz sofrer. Portanto, há apenas uma coisa que o amante pode fazer. Deve abrigar o seu amor dentro de si o melhor que possa; deve criar para si um mundo interior totalmente novo — um mundo intenso e estranho, completo dentro de si mesmo.”
.

CARSON MCCULLERS (19 de Fevereiro de 1917 – 29 de Setembro de 1967), escritora norte-americana, em excerto que traduzimos do original inglês de “A Balada do Café Triste”.

 

Daniela Pace Devisate – Alcateia 


São 13 anos de Patuá, gente! E vai ter festa, muitas! Não poderei ir à comemoração em São Paulo no dia 24/02, mas meu livro estará por lá. Então, povo de Sampa que ainda não tem meu “A forma fugaz das mãos”, agora é o momento!

Mas no dia 16/03, a festa será aqui no Rio. Aí, sim, estarei com abraços a postos e livros disponíveis. Então, enquanto março não chega, simbora pra Sampa. Catem meus livros por lá!




que é a pele senão a mordaça do sangue

a sonegação do grito enquanto saboreiam

ao relento o orgasmo gástrico da fome?

que é a pele senão um rótulo fajuto que se reparte

em afazeres como se o mundo não passasse

de uma imensa casa encerada e concluída?

rasga esse traje delicado que te embaça

e que o sangue escancare toda a acústica

que a custo esteve presa:

siga o mapa das cicatrizes

e encontrarás o homem

 

Kissyan Castro

 



*


*

Liquidez

 

“ Tenho algo a dizer que digo a mim próprio.” (Federico García Lorca)

 

O sal da boca adoça a partida desesperada

Nada dobra a esquina ou consegue vergar a montanha inexpressiva

 

Os automóveis velejam como náufragos na morte do relâmpago.

 

O céu olha para cima

a  terra fecha-se em musgos incomunicáveis

 

Os moinhos viraram  torres imensas

favorecendo trilhões de comunicações liquefeitas

 

O que se lê, esvai-se, flagela-se

A hora torna-se inútil

 

O gato aperfeiçoa o pulo

e o homem cai de si mesmo

 

O medo corrói a pele e a expressão da dor

a velocidade transcende ao holocausto das coisas simples

 

A vida derrama-se, espalma-se no espanto do nada.

Eu me declaro aos silêncios impotentes.

 

Eurídice Hespanhol

*


*


Urban Sketchers é um movimento internacional iniciado em 2007 na cidade de Seattle-USA, voltado para pessoas que gostam de desenhar a cidade onde vivem ou visitam. São desenhos realizados no local por observação direta, e são um registro do tempo e do lugar. Atualmente existem grupos de Urban Sketchers em cidades por todo o mundo. O grupo Urban Sketchers Campos dos Goytacazes realizou o primeiro encontro no dia 20/Out/2018 na Praça São Salvador. Depois foram feitos encontros em vários locais da cidade, como Jardim São Benedito, Igreja da Lapa, Museu Histórico de Campos, Jardim do Liceu, Usina do Queimado, Faculdade de Medicina de Campos – FMC, Colégio Auxiliadora, Lagoa do Vigário, Villa Maria, Ao Livro Verde, Teatro Trianon. Em junho de 2019 o grupo participou do IV Encontro Urban Sketchers Brasil em Ouro Preto, e em 2022 participou do V Encontro Urban Sketchers Brasil no Rio de Janeiro, participando das exposições coletivas dos eventos. Em Campos o grupo realizou exposições no Museu Histórico de Campos, Faculdade de Medicina – FMC e Villa Maria. O grupo é formado por arquitetos, artistas, designers, estudantes e pessoas que simplesmente gostam de desenhar no local.

 

Ronaldo Araújo - coordenador do grupo

leia mais no blog https://fulinaimagens.blogspot.com/

                                        *

acabou a festa
poesia é o que resta
quando nada mais resta

garbo gomes


Arte:
Nu
Edward Weston
( 1936 ) 

SOL DE CARNAVAL

 

                      Luis Turiba

 

a chama flama

quase brasa

não mais possível

queimar a mufa

sem cair na farra

nada afaga

nem a chuva

 

dar um tchibuns

em blocos cordões

charangas bandas

 fanfarras

 

multidões travessas

cruzas urbanas

homens em seus leques

pileques, mo-lekes

salamaleques

piratas pirados

 

meninas arrastam

suas meias arrastadas

seus biquinis de brilhos

fora dos trilhos

ressaltam nádegas

arredondadas em

bundas empinadas

 

no meio do redemunho

manobras danças coletivas

extraordinários desacatos

pulsações carnais

na roda, um senhor

de setenta ou mais

 

ah!

sou um periférico

de estrutura férrea

perdido entre pingos

suores e água fresca

na nuca abrupta suada

 

o calor derrete a moringa

líquido ferve em frevos

o suor do sol da sede

não bebo cervejas

as juntas se juntam

e juntas, venceremos!

 

embalar as crias

em voos que zarpam

raspando o lado

precipício da corcunda

do Corcovado ao Pão

de Açúcar

d’onde ouvimos o coro

doce-inocente do samba

modernista do Oswald

na voz tropicalista de

Caetano

 

“no Pão de Açúcar

de cada dia

dai-nos Senhor

a poesia de cada dia

...no Pão de Açúcar.....

 

                                        Glória, 16.02.024

                                     *


Leia mais no blog https://arturgumesfulinaima.blogspot.com/

                                                                     *

Luis Turibavem do fermento poético-cultural que formou no Brasil a partir de 1968.

A barra pesou e nossa geração respondeu com pedras, tiros, poemas ao som de canções tropicalistas e filmes de Glauber Rocha.

Luis Turiba vem dessa juventude que foi as ruas e inventou um novo tipo de fazer Poesia.

Até que fundou a revista Bric a Brac em Brasília junto com Antonio Risério, João Borges, Lucia Leão, Resa e Augusto de Campos. Na virada do século voltou a ocupar seu lugar entre os poetas de sua geração no Rio, publicando tres livros pelo 7 Letras.

Agora, escreve ha mais de ano o livro autobiográfico “Viva Zé Pereira - Aventuras e Desventuras de uma geração, planejado para sair em 2025.

Luis Turiba trabalhou com Gilberto Gil por 4 anos na re-fundação do Ministério da Cultura cujo programa principal foram os “Pontos de Cultura” implantados no Brasil por intermédio da política fo Don In Antropológico.


                                             *



terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

múltiplas poéticas

nunca estou

mesmo estando

onde nunca estive

mesmo tendo estado

 

isso me provoca sérias dúvidas

dívidas pra resgatar no fim do mês

 

e o preço da  carne seca

está mais caro no mercado

 

Artur Fulinaíma

leia mais no blog

https://fulinaimargem.blogspot.com/


domingo, 4 de fevereiro de 2024

Artur Gomes - O Homem Com A Flor Na Boca

Artur Gomes

O Homem Com A Flor Na Boca

Um Canibal Tupiniquim

 por Fernando Andrade | escritor e jornalista

 Um homem cita um poema de nome. O músico já usou a cítara para musicar este poema pelo nome. Tudo já foi transformado, o poema para canção, a rima comeu a melodia e fez troça e troca de nome. Mas o poema do livro O homem com a flor da boca, da editora Penalux, nos devolve este país, do samba, do riso piada, Leminski, a força do ato canibalista de deglutir o que veio antes da poesia concreta, até a letra da canção de Luiz Tatit. Artur Gomes fez das suas, com tanta fome, comeu a maioria dos poemas que leu na vida e canibalizou e carnavaliza referências, citações, humor de longa estrada, ou beira de bar, trabalhando com gume de faca afiada e o lume de um pôr do sol em Ipanema, lembrando Vinícius.

São poemas bons para musicar tanto na solidão de um violão, quanto, atravessada por uma voz tenor, sax soprano. E não falta sexo, sacanagem, tesão, nas palavras das palavras num atravessamento em plena Quarta feira de cinzas, no resultado do carnaval. O desbunde da bunda, o levante dos órgãos, a gíria, e a menina com fio da linha escrita, carregando anedotas, fábulas e circos. O poeta não faz gênero, ele é macho, e fêmea, Simone, em segundo sexo. São poemas para emprestar ao amigo que está com fone de ouvido se atentar para a prosódia do verso, para quem sabe não copiar e transformar Amor em flor na boca.

 

https://www.literaturaefechadura.com.br/2024/01/22/livro-de-poemas-o-homem-com-a-flor-na-boca-canibaliza-a-historia-brazuca-do-verso-em-poemas-tropicalistas/


                          poesia

 

I

chegas a mim

como uma égua assanhada

não quer saber do meu carinho

só quer saber de ser trepada

 

II

 

eu te penetro

em nome do pai

do filho

do espírito santo

amém

 

não te prometo

em nome de ninguém

 

terra

 

amada de muitos sonhos

e pouco sexo

deposito a minha boca

nu teu cio

e uma semente fértil

nos  teus seios como um rio

 

Artur Gomes

Suor & Cio – MVPB Edições - 1985

https://personasarturianas.blogspot.com/


Múltiplas Poéticas

O olho azul do mistério   desço dos céus para beijar os lábios quentes da fera – desço, vejo dragões pastando na grama azul, incên...