sábado, 30 de abril de 2022

Esfinge


Esfinge

 

d elza ainda não sei de nada

o rio com seus mistérios

molha meu cio em silêncio

de onde vem pra onde vai

se usa sai rodada ou quem sabe tomara que cai

trindade da santíssima santa

fosse apenas o que já foi dito

ou quarteto metafísica quântica

dandara isadora angélica adele

com um beijo preso na garganta

se veste com a própria pele

ou quem sabe com outras tantas


poema freudelérico

 contei duas estrelas do outro lado do muro

uma era baudelaire a outra luis melodia

se eu fosse zeca baleiro bolero blues cantaria

o poema freudelérico não tem nada de pessoa

na vitrola rola um disco dos demônios da garoa

nas margens terceira do rio

meu cavalo segue tenso a trilha que lhe cabe

mallarmaico mallarmélico um tanto quase

baudelérico exalando flores do mal

queimando em mar de fogo me registro

a lavra da palavra quero quando for  pluma

mesmo sendo espora

assombrado com o verbo desemprego

afio ainda mais a carnavalha rasgo as tralhas da mortalha com a faca de dois gumes

cu do mundo onde fica?

palácio do planalto alvorada  cu de boi

submundo mais profundo de um país que já foi

 

Artur Kabrunco

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                                               Jura Secreta 


não fosse essa jura secreta 
mesmo se fosse e eu não falasse 
com esse punhal de prata 
o sal sob o teu vestido 
o sangue no fluxo sagrado 
sem nenhum segredo 

esse relógio apontado pra lua 
não fosse essa jura secreta 
mesmo se fosse eu não dissesse 
essa ostra no mar das tuas pernas 
como um conto do Marquês de Sade 
no silêncio logo depois do susto 

 

 

Jura secreta 1 

a língua escava entre os dentes 
a palavra nova 
fulinaimânica/sagarínica 
algumas vezes muito prosa 
outras vezes muito cínica 

tudo o que quero conhecer: 
a pele do teu nome 
a segunda pele o sobrenome 
no que posso no que quero 

a pele em flor a flor da pele 
a palavra dandi em corpo nua 
a língua em fogo a língua crua 
a língua nova a língua lua 

fulinaímica/sagaranagem 
palavra texto palavra imagem 
quando no céu da tua boca 
a língua viva se transmuta na viagem
 

 

 


não fosse esse punhal de prata 
mesmo se fosse e eu não quisesse 
o sangue sob o teu vestido 
o sal no fluxo sagrado 
sem qualquer segredo 

esse rio das ostras 
entre tuas pernas 
o beijo no instante trágico 
a língua sem que ninguém soubesse 
no silêncio como susto mágico 
e esse relógio sádico 
como um Marquês de Sade 
quando é primavera 

 

 

Jura secreta 3 

fosse essa jura sagrada 
como uma boda de sangue 
às 5 horas da tarde 
a cara triste da morte 
faca de dois gumes 
naquela nova granada 
e Federico Garcia Lorca 
naquela noite de Espanha 
não escrevesse mais nada 

 


a menina dos meus olhos 
com os nervos à flor da pele 
brinca de bem-me-quer 
ela inda pensa que é menina 
mas já é quase uma mulher 

 

 Jura secreta 5 


não fosse essa alga 
queimando em tua coxa 
ou se fosse e já soubesse 
mar o nome do teu macho 
o amor em ti consumiria 

Olga Savary 
no sumidouro dos meus dias 

o couro cru 
na antropofágica erótica 
carne viva 
tua paixão em mim 
voraz língua nativa 

 


o que passou não ficará já foi 
a menina dos meus olhos 
roubou a tua menina 
e levou para festa do boi 

fosse um Salgado Maranhão 
nosso batismo de fogo 
25 de março 
e o morro querosene  em chamas 
no canto pro tempo nascer 

e o amor que a gente faria 
o sol acabou de fazer 

 

 

Jura secreta 7 

fosse Sampa uma cidade 
ou se não fosse não importa 

essa cidade me transporta 
me transborda me alucina 

me invade inter/fere na retina 
com sua cruel beleza 

como Oswald de Andrade 
e sua realidade 

como Mário de Andrade 
e sua delicadeza 

 

                                                                      Jura Secreta 8

artefato (poema sujo)

 

numa cidade abstrata

sem sentido ou significado

matadouro é arte concreta

veracidade é pecado

pago com pena de morte

 

esta máquina de escrever

fotografada em Itaguara

como um poema de Lorca

escrito em Nova Granada

cravado em Araraquara

 

você não sabe onde está

você não sabe onde  é

você não sabe de quem foi

este punhal na metáfora

que sangra a carne do boi

 

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com



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quarta-feira, 27 de abril de 2022

Artur Gomes _ Juras Secretas

 

Jura secreta 57

meta metáfora no poema meta

como alcançá-la plena
no impulso onde universo pulsa
no poema onde estico prumo
onde o nervo da palavra cresce
onde a linha que separa a pele
é o tecido que o teu corpo veste

como alcançá-la pluma
nessa teia que aranha tece
entre um beijo outro no mamilo
onde aquilo que a pele em prumo
rompe a linha do sentido e cresce
onde o nervo da palavra sobe
o tecido do teu corpo desce
onde a teia que o alcançar descobre
no sentido que o poema é prece

 

 Jura secreta 58



a carne que me cobre é fraca
a língua que me fala é faca
o olho que me olha vaca
alfa me querendo beta

juro que não sou poeta
a ninfa que me ímã
quando arquiteta

o salto da abelha
quando mel em flor
e pulsa pulsa pulsa pulsa
na matéria negra cor
quando a pele que veste é nada
éter pluma seda em pelo

quando custa estar em Arcozelo
desatar a lã dos fios do novelo
em pleno  sol de Amsterdã

desvendar Hollanda
nos mistérios da palavra
por entre o nó  dos cotovelos?

 

jura secreta 59

a coisa que me habita é pólvora
dinamite em ponto de explosão
o país em que habito é nunca
me verás rendido a normas
ou leis que me impeçam a fala
a rua onde trafego é amplo
atalho pra o submundo

do escavado  fosso

o poço

onde mergulho é fundo
vai da pele que me cobre a carne
ao nervo mais íntimo do osso

 

 Jura secreta 60

 

qualquer palavra eu invento

na carnadura dos ossos

na escriDura do éter

na concretude do vento

na engrenagem da sílaba

vocabulário onde posso

dar nome próprio ao veneno

que tem o Agro Negócio

 

 

Jura Secreta 61

pele grafia

 

meus lábios em teus ouvidos

flechas netuno cupido

a faca na língua a língua na faca

a febre em patas de vaca

as unhas sujas de Lorca

cebola pré sal com pimenta

tempero sabre de fogo

na tua língua com coentro

qualquer paixão re/invento

 

o corpo/mar quando agita

na preamar arrebenta

espuma esperma semeia

sementes letra por letra

na bruma branca da areia

sem pensar qualquer sentido

grafito em teu corpo despido

poemas na lua cheia

 

 

Juras secreta 62

 

 

tenho estado

entre o fio e a navalha

perigosamente – no limite

pulando a cerca da fronteira

entre o teu estado de sítio

e o meu estado de surto

 

só curto a palavra viva

odeio uma língua morta

 

poema que presta é linguagem

pratico a SagaraNAgem

na esquina  da rua torta

 

Artur Gomes

Juras Secretas

Edititora Penalux – 2018

https://secretasjuras.blogspot.com/





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terça-feira, 26 de abril de 2022

BraziLíricA Pereira - re-visitada



 BraziLírica Pereira Pereira

: A Traição das Metárofas

para Dalila Teles Veras

 

Re-Visitando

 

aqui

onde as coisas acontecem

agora estou

onde já estive

mesmo não estando

 

independente de onde esteja

me viaja pra Lisboa

pelas Ilhas da Madeira

e eu aqui de Madureira

me transporto em barco à vela

me transformo em aquarela

com poemas de Kandinski

mando um beijo pro Leminski

e me refaço na Pessoa


boca do inferno

 

por mais que te amar

seja uma zorra

eu te confesso amor pagão

não tem de ter perdão prá nós

eu quero mais é teu pudor de dama

despetalando em meus lençóis

 

e se tiver que me matar que seja

e ser eu tiver que te matar que morra

em cada beijo que te der amando

só vale o gozo quando for eterno

infernizando os céus

e santificando a boca do inferno

 

Artur Gomes

Do livro Suor & Cio – MVPB Edições – 1985 Musicado e gravado por Luiz Ribeiro  no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia – Fulinaíma Produções - 2000


Barbato

 

é o barato da voz

a todo vapor

mesmo não sendo Gal

é Fatal o que me toca

enquanto fala

nada cala enquanto move

os músculos da boca

e as cordas na garganta

quando sonoriza o ar

mesmo se não canta

é música que me traz

dos teus martírios

quando extravasa teus mistérios

quantos

 

Federico Baudelaire

https://personagensarturianas.blogspot.com



Cabeça

Quando eu sofria dos nervos,
não passava debaixo de fio elétrico,
tinha medo de chuva, de relâmpio,
nojo de certos bichos que eu não falo
pra não ter de lavar minha boca com cinza.
Qualquer casca de fruta eu apanhava.
Hoje, que sarei, tenho uma vida e tanto:
já seguro nos fios com a chave desligada
e lembrei de arrumar pra mim esta capa de plástico,
dia e noite eu não tiro, até durmo com ela.
Caso chova, tenho trabalho nenhum.
Casca, mesmo sendo de banana ou manga,
eu não intervo, quem quiser que se cuide.
Abastam as placas de ATENÇÃO! que eu escrevo e ponho perto.

Um bispo, quando tem zelo
apostólico, é uma coisa charmosa.
Não canso de explicar isso pro pastor
da minha diocese, mas ele não entende
e fica falando: ‘minha filha, minha filha’,
ele pensa que é Woman’s Lib, pensa
que a fé tá lá em cima e cá em baixo
é mau gosto só. É ruim, é ruim,
ninguém entende. Gritava até parar
quando eu sofria dos nervos.

Adélia Prado

https://www.youtube.com/watch?v=UDVM69xCOI4



Cabras Mandacaru

 

assim como mata a sede do pobre,

mandacaru não perdoa a falsidade

dos covardes que só pensam em sugá-lo

que chegam pra usá-lo

e depois o condenam à morte!

assim a mulher mais simplória do nordeste

assim todo homem e cabra do agreste

não aceita mais mentira dos velhacos

que não olham pros barracos

das cidades do sul e sudeste

vá, volte pra casa rapaz

aqui nesses nossos currais

não tem chance pra sua peste

vá, saiba que ninguém tem dó

do seu caminhar tão só

você não sabe nem o que veste!

 

Paulo Celso Ciranda

https://soundcloud.com/.../cabras-do-mandacuru-paulo-ciranda



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Múltiplas Poéticas

O olho azul do mistério   desço dos céus para beijar os lábios quentes da fera – desço, vejo dragões pastando na grama azul, incên...