ASSASSIGNO
Nas fileiras das estantes
s-obram palavras e traças:
não reverse o veio dantes
e por melhor que o faça.
A linguagem só se inventa
E joga com dado lance:
Não poete de requenta,
Por mais ilusão alcance.
Não amArele rolls-joyce,
Não faça mallarmelada,
Não eufemíssil à coice,
E não cante por cantada.
Não reboque barrocávila,
Não confisque mais de cláudio
Nunca re(x)clame dah! Vida,
Não se corrompa por gáudio.
Não panfleteie ideologia,
Não holografe em atari,
Não loversonhe as marias,
Não palavre: signatari.
Não venha com requevedos,
Não lenhe em tom de gregório,
Não ordenhe ofício do aedo,
Nem o público-notório.
Não saque a 45
Não inverse poema-processo
Não use mel, goma ou, em vinco,
Divã-guarde retrocesso.
Não provencie a goliardo
Não reenlouqueça os ar(t)naudt,
Não faça da fala fardo,
Não insume com o cocô.
Não vá, não fique na onda,
Não caia naquela ou de porre,
Não refaça plagioconda,
Não suje o marfim da torre.
Não publique o poetego,
Não bajule a panelinha,
Não se desdenhe de cego,
Não fale nas entrelinhas.
Não Tradúzia o neo dos campos
Não antifugue bachstianunes
Não entre – linguagem é grampo,
Não julgue a poesia impune.
Não oswaldolatre perjuras,
Não vá de bandeira-dois,
Não relate as escrituras,
Não esqueça do nome aos bois.
Não leréie pounderação,
Não geléie de cummings-kaze
Não restréie rimar em Ão,
Não coquetéie a nova fase.
Não se distraia, lendo vico,
Não se traia, sendo ovídio ou
Subtraie obra do pinico,
Não vaie nunca versuicídio.
Não bissexte pelo reto,
Não se iluda sem ver gílio,
Não discursobre o concreto,
Não purguevara ou idílio.
Não almaminhe vaz camões,
Não redobregue huidobro,
Não prosopopeie os sermões,
Não estruturalize o adobo.
Não transuje o blanco-paz,
Não urbanize joão cabral,
Seja per-verso: abra o gás.
E cheire as flores do mal.
Não drummondeie substantivo,
Não se cordeire em escola,
Não academize ledivo,
Não stanislauda o que assola.
Não sugarana de rosa,
Não chanteie a éluard,
Não diz que a rosa é a rosa,
Não liberte que será tarde.
Não dê uma de alcagoethe
Resousândrade o discurso,
Não best-seller ou verbete,
Não desmaiakovski os russos.
Não envie desc-arte postal,
Não deixe de re-leminski,
Não derrame ode em sarau,
Decubo-versal, kandisky.
Não pseudografe pessoa,
Não freudelire breton,
Não escreva, a sério ou à toa,
Não unte a língua de baton.
Não faça kilkerrelease,
Não passe por elliotário,
Não (se) banalize em silk.
Não suplemente literário.
Não passe replei, desista,
Não há vítima ou lição:
Versejar, ora!, não insista,
O melhor poema é o não.
Márcio Almeida
contatos com o autor:
marcioalmeidas@hotmail.com
presente da minha querida La Bohéme nesta manhã de um domingo
de luz.
E,
ao espreitar a janela, "perguntei ao desejo.
Quem és? 'Ele' respondeu: lava. Depois pó. Depois nada."
Por isso ao
Ver-te. Tocar-te. Que fulgor de máscaras.
Que desenhos e rictus na tua cara
Como os frisos veementes dos tapetes antigos.
Que sombrio te tornas se repito
O sinuoso caminho que persigo: um desejo
Sem dono, um adorar-te vívido mas livre.
E que escura me faço se abocanhas de mim
Palavras e resíduos. Me vêm fomes
Agonias de grandes espessuras, embaçadas luas
Facas, tempestade. Ver-te. Tocar-te.
Cordura.
Crueldade.
Hilda Hilst
Photography by Ricardo Amador.
O
TEATRO E O ESPELHO
por Carlos Augusto Nazareth
É o teatro o espelho do homem e do mundo. Ali,
movidos pela razão e pela emoção, percebemos o Homem em sua relação com ele
mesmo, com os outros e com o mundo. E esta é uma das funções do teatro -
repensar o homem e a vida, inserido num contexto histórico-político.
As produções voltadas para as crianças espelham
como os criadores vêm a criança e o teatro como Obra de Arte, função primeira
do teatro e como mero produto comercial. Por vezes, colocado a serviço do ganho
fácil e de projetos caça-níqueis, alguns produtores buscam atingir segmentos
definidos da população, criando produtos que atendam ao perfil destes
“consumidores”, seja de que forma for, visando unicamente o lucro e tentando
conquistar principalmente os pais, que são os que decidem que espetáculo a
criança irá ver.
Esta questão é segmentada
1. Há produções que se dirigem diretamente para um
público considerado de elite, na verdade classe média, que sempre passa férias
na Disneylândia e têm uma irresistível atração pelo “american way of life” e
pelas grandes produções e grandes musicais.
Portanto as produções que ocupam os teatros
situados em locais nobres buscam atingir esse público com dois tipos de
espetáculo. Cópias “trash” dos filmes de Walt Disney, onde o espetáculo é uma
reprodução dos filmes – os diálogos são traduzidos, as músicas ganham versão em
português, os figurinos reproduzidos e os tipos físicos dos atores repetem o
tipo dos astros norte-americanos: lindas mocinhas louras se apaixonam por belos
príncipes encantados e louros. Estes espetáculo geralmente se utilizam de
certos “truques” que os produtores perceberam que “funcionam” - a referência a
assuntos contemporâneos, programas de televisão, o uso de termos “da hora “ , a
introdução da tecnologia nos contos de fada, onde a bruxa fala com a fada por
celular e por vezes mesmo o recurso do ator fazendo papel feminino, numa
composição “drag queen”, com bastante escracho, propositalmente risível.
Nestas produções vemos o espelho daquele segmento
de público onde teatro não é arte, é passa-tempo, criança gosta é de bobagem, a
diversão é o escracho inconseqüente e desmedido, por vezes. O teatro lota, as
crianças geralmente gritam excitadas e incitadas por atores e pais. Saem todos
com a ilusão de que foram ao teatro, que levaram seus filhos para um programa
cultural, na verdade uma forma de “arranjar o que fazer com as crianças no
final de semana”. E aí o teatro é também espelho da relação pais e filhos, a
forma como se relacionam com a cultura, com o mundo.
2. Há produções em clubes e pequenos teatros,
geralmente localizados na zona menos “nobre” da cidade e que se voltam para um
público classe média baixa, menos favorecido financeiramente, que pouco acesso
têm à produção cultural, mas que também querem proporcionar a seus filhos a
importante ida ao teatro, pois ir ao teatro ainda é, no Brasil, símbolo de
status social. Algumas pessoas ficam envergonhadas de dizer que não vão ou que
não gostam de teatro, portanto ir ao teatro é, para este grupo de pessoas, repetimos,
símbolo de ascenção social.
Estas produções, geralmente de péssima qualidade,
seja na competência dos atores, seja da sua ficha técnica, se utilizam
geralmente dos contos tradicionais, como uma forma de provocar algum tipo de
identificação com o publico. Normalmente o pai leva o filho para ver as
histórias que ele ouvia quando criança. É esse critério de identificação que
orienta os pais na escolha dos espetáculos.
Estes grupos, quase amadores, geralmente não têm
nenhum tipo de formação, desconhecem o universo infantil, ignoram a importância
do conto tradicional, como resgate da história da humanidade e cheios de
símbolos e signifcação em diversos níveis. Assim, os adaptam para o palco com
total desconhecimento das “regras básicas de dramaturgia”.
Desconhecem também a importância destes textos
enquanto literatura. Além disto, geralmente, as adaptações são feitas a partir
de recontos de terceiro, quarto grau – o reconto do reconto - e quando chegam
ao palco chegam vazios de significado. Porém mais uma vez a missão de ir ao
teatro está cumprida. O adulto racionalmente tenta se convencer de que levou
seu filho ao teatro, mas, a sensação vazia da experiência teatral não vivida,
faz com que seu retorno ao teatro fique ameaçado e esta criança dificilmente será
um espectador quando adulto.
Além disto, estes espetáculos ficam acima do bem e
do mal, pois os críticos, com o pouco espaço para os espetáculos interessantes,
lá não vão; os jurados dos prêmio, também não, portanto o que os produtores
anunciam passa a ser a pura verdade e é esta a visão que passam para os pais,
professores – mediadores - que com poucas alternativas para se informar sobre a
programação cultural para criança e por não terem experiência própria com o
teatro, por comodismo e uma visão menor do que seja “diversão” para criança,
nem questionam a qualidade do que está sendo oferecido.
3. Temos um outro grupo, o maior deles, que nunca
tiveram acesso ao teatro. População concentrada na zona mais empobrecida da
cidade.
Onde está o teatro nos bairros mais distantes,
menos favorecidos econômica, cultural e socialmente?
4. Mas há, felizmente, por outro lado, os
criadores que tomam o espetáculo teatral como Obra de Arte, que se preocupam
com a excelência, que são preparados para exercer a profissão e a arte, que
conhecem e se preocupam em conhecer as crianças. São minoria, infelizmente.
O tipo de produção teatral que abordamos nos itens
1, 2 e 3 traz muito mais malefícios que benefícios ao teatro e ao público, faz
com que os pais acreditem que “teatro infantil é assim mesmo”, que teatro é
chato, que não vale a pena sair de casa, da frente do computador ou da
televisão para ir até o teatro.
Recentemente o crítico teatral do Jornal do Brasil
recebeu telefonema de um diretor de espetáculos infantis que disse textualmente
“ não entendo nada de espetáculo infantil, mas adoro. Não sei dirigir, pois
tenho só 19 anos de idade, mas meu espetáculo está em cartaz e gostaria que o
senhor fosse lá para me dar algumas dicas de como dirigir. “
E nos perguntamos, como um espaço cultural, seja
qual for, cede espaço para um espetáculo dirigido por alguém que confessa não
saber dirigir, que deveria estar buscando uma formação, porém já está com um
produto pronto (sic) em cartaz.
Todos os segmentos da sociedade têm que estar
envolvidos nesta questão, ou nas questões da Arte, enquanto fundamental na
formação integral do ser humano.
E se entenda todos – o ensino fundamental, o
ensino secundário, o ensino universitário, a nível de formação, pós-graduação,
mestrado, doutorado, a imprensa. Discussão que inclua pais, professores,
pedagogos, orientadores, diretores de escolas. Nas escolas de formação de
atores, seja de nível técnico, de terceiro grau, pós-graduação, mestrado ou
doutorado, ou nos cursos de formação de professores, ou nos de pedagogia. Nada.
Em nenhum lugar se discute estas questões, que ficam restritas aos poucos
profissionais preocupados com a questão qualidade. É uma tarefa hercúlea que
necessita de uma vontade política, As ações precisam acontecer em todos os níveis.
Não podemos esquecer a função política e social do teatro, na relação teatro e
sociedade.
A circulação de informação, a socialização desta
discussão sobre a influência deste teatro sobre a criança, não apenas como
de-formadores de platéia, mas um espelho deformante para a criança, na sua
construção enquanto cidadãos. O mundo que lhes é mostrado, com certeza provoca
impactos que são, na verdade, por vezes, bem piores que aqueles que causam um
programa de televisão da pior qualidade. O teatro é presencial.
É o espelho do mundo e o espelho da humanidade que
ali devolve imagens deformadas para um público extremamente aberto e sensível a
qualquer tipo de expressão.
A força da palavra e da imagem, a força da
situação dramática “in praesentia”, tudo colabora para uma de-formação do
indivíduo em formação.
O teatro tem que estar permanentemente consciente
de sua função pública, política, de sua responsabilidade social sem abrir mão
de sua magia e de sua responsabilidade de formar cidadãos, emocionar, fazer pensar,
refletir, tudo isto através do “jogo”. Diversão que ocupa a alma e a razão.
Drama é a união de razão e emoção – assim se realiza a obra teatral.
Abrir mão destes elementos fundamentais desta
expressão artística, por parte dos realizadores é falta de seriedade enquanto
profissionais, enquanto cidadãos, pois prestam um des-serviço à sociedade.
Estar atento a estas questões é um dever dos pais e dos professores.
A única forma de se mudar este panorama é um
investimento do setor público, do setor privado, maciçamente na educação e na
cultura, na formação do indivíduo, que só se faz completa no convívio pleno com
a Arte. E, além disso, fazer circular a informação, socializar a informação
sobre as questões da educação, da cultura e da arte, principalmente em relação
a criança.
Fazer pensar, refletir, é o caminho, abrir
caminhos, buscar espaços, trazer a tona estas questões, questionar – este é o
início do caminho.
cena 3 a menina que come livros
Federico - come vento menina come vento. não há
mais metafísica no mundo do que comer vento
Clarice - prefiro chocolate
Federico - mas isso aí é um livro
Clarice - não faz mal, é como se fosse
Federico - como se fosse é muito vago
Clarice - pode ser vago pra você mas para mim não é
Federico - você é muito estranha
Clarice - estranha por quê?
Federico - parece até que come livros!
Clarice - e o quê você tem com isso? te incomoda?
Federico - calma, não precisar s irritar!
Clarice - mas quem disse que estou irritada?
Federico - do jeito que você fala!
Clarice - e você queria que eu falasse como?
Federic o - normal
Clarice - mas eu falo normal como eu falo esse é o
meu normal de falar. Se não está gostando dá licença, e para de fazer perguntas.
Federico - grossa!
Clarice - não gosto de muitas perguntas. sou assim
mesmo
Federico - mas não precisa xingar!
Clarice - e quem foi que xingou?
Federico - se não xingou foi quase
Clarice - me deixa em paz. que eu quero terminar
de comer meu livro
Federico - é doida, comer seu livro?
Clarice - modo de dizer. já te disse sou assim
mesmo
Federico - assim mesmo como?
Clarice - gosto de comer livros, romances, ficção,
principalmente poesia
Federico - quero dizer que ainda arde tua manhã em
minha tarde
Clarice - nem vem que não tem
Federico - nem tem o quê?
Clarice - essa cantada barata
Federico - tua noite no meu dia
Clarice - vai insistir?
Federico - tudo em nós que já foi feito com prazer
ainda faria
Clarice - o que nós já fizemos? tá doido?
Federico - quero dizer que ainda é cedo ainda
tenho um samba/enredo
Clarice - fique sabendo que prá mim é tarde
Federico - tudo em nós é carnaval é só vestir a
fantasia
Clarice - detesto carnaval
Federico - quero ser teu mestre sala e você
porta/bandeira. quando chegar a quarta-feira a gente inventa outra folia
Clarice - você quer fazer o favor de me deixar de
comer meu livro
Federico - vai me dizer que não gostou?
Clarice - detestei. cantada barata igual a essa eu
já ouvi de um monte
Federico - duvido!
Clarice - então fica aí com a sua dúvida por quê
quanto a isso eu não tenho nenhuma. e me dá licença que eu vou terminar de
comer meu livro
(lendo o livro) come chocolate menina, come
chocolate. não há mais meta física no mundo do que comer chocolate.