Balbúrdia PoÉtica
Agenda:
Balbúrdia PoÉtica 6 –
Artur Gomes e José Facury
Dois Perdidos Em Seus Poemas Sujos
Dia 17 de maio 20h
Usina4 – Casa das Artes
Cabo Frio-RJ
Balbúrdia PoÉtica 7
Dia 23 de maio – 19:30h
Santa Paciência Casa Criativa
Rua Barão de Miraema, 81
Balbúrdia PoÉtica 8
Dia 27 de maio – 19:30h
Museu Histórico de Campos
Balbúrdia PoÉtica 9
Dia 4 de junho das 14:30 às 16h
Na 12ª Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes – CEPOP
Criação & Direção – Artur Gomes
Coletivo Macunaíma De Cultura
Fulinaíma MultiProjetos
22 99815-1268 – whatsapp
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https://fulinaimargem.blogspot.com/
engenho
minha terra
é de senzalas tantas
enterra em ti
milhões de outras esperanças
soterra em teus grilhões
a voz que tenta – avança
plantada em ti
como canavial
que a foice corta
mas cravado em ti
me ponho à luta
mesmo sabendo – o vão
- estreito em cada porta
Artur Gomes
Poema dos livros: Suor & Cio – 1985
Carne Viva – Antologia de Poesia Erótica – Org. Olga Savary – 1986
Pátria A(r )mada – 2ª Edição – Desconcertos Editora – 2022
eu, liberdade
sou livre, sim.
liberdade do tipo que faz barulho
com o corpo inteiro —
até os ossos fazem festa
quando passo pelas esquinas do tédio.
tenho uma inteligência inconveniente,
dessas que não se curva
pra nenhum deus de gravata.
meus pensamentos mastigam convenções
como quem tritura gelo
numa noite de insônia.
carrego ironias no bolso,
como quem guarda pedrinhas
pra atirar em telhados de vidro.
às vezes finjo que acredito no sistema,
só pra vê-lo tropeçar
no próprio verbo.
liberdade é meu codinome,
mas não essa de outdoor
nem de bandeira lavada.
é a que acorda comigo
com o hálito amargo da verdade
e um sorriso de navalha.
eu sou livre porque sei rir —
principalmente de mim.
e isso, coisa de raro engenho,
é o que mais assusta os ignóbeis.
tenho um sarcasmo terno,
feito beijo na testa antes do adeus.
e uma lucidez que atormenta,
mas anda ereta,
mesmo quando manca.
se quiser me entender,
não leia o que escrevem.
desconfie.
sou livro escrito à unha,
sem capa e páginas arrancadas.
sou labirinto com saída,
mas sem mapa.
e quem me encontra,
nunca mais quer se perder.
Simone Bacelar
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Festival Infanto Juvenil
De Esquetes Teatrais
Objetivo:
Incentivo a formação de novos talentos para a cena teatral da cidade de Campos dos Goytacazes-RJ
Regulamento:
1 - Os esquetes poderão ser encenados por atores e atrizes na faixa etária dos 5 aos 18 anos.
2 - Os esquetes deverão ter no máximo 10 minutos de duração e 3 minutos para montagem e retirada de cenários ou objetos cênicos.
3 – Os esquetes podem ser de autoria do grupo proponente ou não.
4 – Os esquetes podem ser encenados por 1 ou mais atores, de acordo com as características do texto a ser encenado.
5 - Da premiação:
Em busca de patrocínios, ou parcerias que possam contribuir para que possamos oferecer uma premiação adequada com a importância do projeto
Artur Gomes
Fulinaíma MultiProjetos
22 99815-1268 - whatsapp
Balbúrdia PoÉtica 6
Artur Gomes e José Facury
Dois Perdidos Em Seus Poemas Sujos
poetas convidados: Jiddu Saldanha e Tanussi Cardoso
Dia 17 de Maio – 20h
Usina4 Casa das Artes
Rua Geraldo de Abreu, 4
Cabo Frio-RJ
era uma vez um mangue
era uma vez um mangue
e por onde andará
Macunaíma?
(Ainda estou aqui)
na sua carne no seu sangue
na medula no seu osso
será que ainda existe
algum vestígio de Macunaíma
na veia do seu pescoço?
tá no canto da sereia
no rabo da arraia
nos barracos da favela
nos becos do matadouro
na usina sapucaia?
na teoria dos mistérios
dos impérios dos passados
nas covas dos cemitérios
desse brasil desossado?
macunaíma não me engana
bebeu água do paraíba
nos porões dos satanazes
está nos corpos incinerados
na usina de cambaíba
em campos dos goytacazes
macunaíma não me engana
está nas carcaças desovadas
na praia de manguinhos em
são francisco do Itabapoana
Joilson Bessa me disse
Kapiducéu já ensaia
Macunaíma vem vindo
no Auto do Boi Macutraia
Artur Gomes
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O sax no som da palavra
dentro do poema
Roteiro
sua flauta está me fazendo falta na minha boca de batom teu sax uma máquina de
som
fulinaimicamente a boca
do desejo morde a carne dos meus dentes e desassossega minha língua em tua boca quando dá o tom : fulinaimicamente
Artur Gomes - O COISA RUIM
me querem manso cordeiro imaculado
sangrado no festim dos canibais
me querem escravo ordeiro serviçal
salário apertado no bolso cego mudo e boçal
me querem rato acuado rabo entre as pernas medroso um verme,
pegajoso
mas eu sou osso duro de roer caroço faca no pescoço maremoto,
tufão, furacão
mas eu sou cão lato mordo arreganho os dentes incito a revolta
dos deuses toco fogo na cidade qual nero devasto o lero lero entro em campo
desempato eu sou o que sangra um poeta nato
Ademir Assunção
Artur - fulinaimagem
1
por enquanto vou te
amar assim em segredo como se o sagrado
fosse o maior dos pecados originais e minha língua fosse só furor dos
Canibais e essa lua mansa fosse
faca a afiar os versos que inda não
fiz e as brigas de amor que nunca quis mesmo quando o projeto aponta outra direção embaixo do nariz e é mais concreto que a argamassa do abstrato - por enquanto vou te amar assim admirando teu retrato enquanto penso minha idade e o que trago da cidade embaixo as solas dos sapatos - 2 - o que trago
embaixo as solas dos sapatos é fato bagana acesa sobra do cigarro é sarro dentro do carro ainda ouço Jimmi Hendrix quando quero dancei bolero sampleAndo rock and roll prá colher lírios há que se por o pé na lama a seda pura foto/síntese do papel tem Flor de Lótus nos bordéis Copacabana procuro um mix da guitarra de Santanna com os espinhos da Rosa de Noel
ouvidos black rumo premeditando o breque sampa midinigth ou
aVersão de Brooklin não pense aliterações em doses múltiplas pense sinfonia em
rimas raras assim quando desperta do massificado ouvidos vais ficando dançarina
cara ao Ter-te Arte nobre minha musa Odara
ao toque dos tambores ecos sub/urbanos elétricos negróides
urbanóides gente galáxias relances luzes sumos pratos delícias de iguarias que
algum Deus consente aos gênios dos infernos que ardem gemem Arte
misturas de comboios das tribos mais distantes de múltiplas
metades juntas numa parte
assim vivemos cantando fingindo que somos decentes para
esconder o sagrado em nosso profanos segredos se um dia falta coragem a noite
sobra do medo é que na sombra da tatuagem sinal enfim permanente ficou pregando
uma peça em nosso passado presente o nome tem seus mistérios que se escondem
sob panos o sol e claro quando não chove o sal e bom quando de leve para adoçar
desenganos na língua na boca na neve o mar que vai e vem não tem volta o amor é
a coisa mais torta que mora lá dentro de mim teu céu da boca e a porta onde o
poema não tem fim
A mulher
que come livros
Federico - Beatriz!
Beatriz - o que é
Federico
Federico - o que
tanto lê aí nesse estranho livro?
Beatriz - é
sobre a possibilidade de uma invasão cibernética que vai acontecer em 2020
Federico - Pirou?
Beatriz - não é o
que o cientista está dizendo aqui?
Federico - qual é
o nome dele?
Beatriz -
Federico Baudelaire
Federico- claro
só podia ser ele , esse cara é louco!
Beatriz -
mas o que ele está dizendo aqui tem
lógica
Federico - bebeu?
Beatriz - Água
Federico - pelo
jeito acho que não foi água não
Beatriz - está
duvidando de mim?
Federico - claro
que duvido. nem te conheço direito, e você passa o tempo todo enfiada nesse
livro, escrito por um maluco, que acha que vamos ter invasão cibernética, como
não vou duvidar?
Beatriz - mas
você devia acreditar, tudo leva a crer que esta invasão pode acontecer mesmo.
Federico - Só
porque você quer. acho que seus neurônios já não estão funcionando muito bem
não.
Beatriz - você é
um ateu não acredita em nada
Federico - eu
acredito em muita coisa, mas não posso acreditar num absurdo desses
Beatriz- só
porque é cego
Federico - se
fosse cego não estaria te vendo aí.
Beatriz - como
está me vendo?
Federico
-
com os olhos
Beatriz- não foi
isso que perguntei
Federico - como
perguntou então?
Beatriz- de que
maneira está me vendo, feia, bonita, linda, elegante.
Federico- não tem
espelho não?
Beatriz- mal
educado!
Federico - não se
trata de educação, é uma questão de ponto de vista.
Beatriz- mas não
respondeu minha pergunta!
Federico - você
se acha!
Beatriz- há
muito tempo, desde que me olhei a primeira vez no espelho
Federico - deve
ser por isso que acredita em invasão cibernética
Beatriz- Vamos
mudar de assunto, porque já está m torrando o saco essa sua conversa
Federico - mudar
pra quê?
Beatriz- vou
tomar um banho para ir ao super mercado
Federico
-
quanta vaidade! precisa tomar banho para ir ao super mercado?
Beatriz- questão
de higiene meu caro!
Federico - boa
viagem...
Beatriz– espera aí, esqueci que tenho
que fazer uma lição de casa
Federico – Lição de casa? Que lição é
essa?
Beatriz– é um teste que vou fazer amanhã
para o teatro do Absurdo um texto de
Fernando Arrabal, não Arrabal não é do Beckett. Uma ideia que me surgia na Cal
mas tinha me esquecido
Federico – Agora pirou de vez! (sai de
cena)
Beatriz– (sai de cena e volta rápido com
um livro na mão - O Homem Com A Flor Na Boca. ) Acho que vou fazer uma
adaptação porque o que na verdade o que eu quero encenar está aqui nesse livro
que achei no sebo do mercado municipal de campos dos Goytacazes - (abre o livro
e escolhe o texto).
Beatriz - eu sou avessa atravesso a cidade com o que me interessa / as vezes sou sossego outras vezes tenho pressa / não procuro o que não quero / me abstenho no que faço / me abstrato quando posso / me concreto em cada passo / o compasso é argamassa o absinto é quando traço uma linha nunca reta da palavra em descompasso / se sou torta não importa / em cada porta risco um ponto / pra revelar os meus destroços / no alfabeto do desterro a carnadura dos meus ossos
Teatro do
Absurdo 8
a mulher que come
livros – cena 1
Federico - come
vento menina come vento. não há mais metafísica no mundo do que comer vento
Clarice - prefiro
chocolate
Federico - mas
isso aí é um livro
Clarice - não faz
mal, é como se fosse
Federico - como
se fosse é muito vago
Clarice - pode
ser vago pra você mas para mim não é
Federico - você é
muito estranha
Clarice -
estranha por quê?
Federico - parece
até que come livros!
Clarice - e o
quê você tem com isso? te incomoda?
Federico - calma,
não precisar se irritar!
Clarice - mas
quem disse que estou irritada?
Federico - do
jeito que você fala!
Clarice - e você
queria que eu falasse como?
Federico - normal
Clarice - mas eu
falo normal como eu falo esse é o meu normal de falar. Se não está gostando dá licença, e para de
fazer perguntas.
Federico -
grossa!
Clarice - não
gosto de muitas perguntas. sou assim mesmo
Federico - mas não
precisa xingar!
Clarice - e quem
foi que xingou?
Federico - se não
xingou foi quase
Clarice - me
deixa em paz. que eu quero terminar de comer meu livro
Federico - é
doida, comer seu livro?
Clarice - modo de
dizer. já te disse sou assim mesmo
Federico - assim
mesmo como?
Clarice - gosto
de comer livros, romances, ficção, principalmente poesia
Federico - quero
dizer que ainda arde tua manhã em minha tarde
Clarice - nem
vem que não tem
Federico - nem
tem o quê?
Clarice - essa
cantada barata
Federico - tua
noite no meu dia
Clarice - vai insistir?
Federico - tudo em nós que já foi feito com prazer
ainda faria
Clarice - o que
nós já fizemos? tá doido?
Federico - quero
dizer que ainda é cedo ainda tenho um samba/enredo
Clarice - fique
sabendo que prá mim é tarde
Federico - tudo em
nós é carnaval é só vestir a fantasia
Clarice - detesto
carnaval
Federico - quero
ser teu mestre sala e você porta/bandeira. quando chegar a quarta-feira a gente
inventa outra folia
Clarice - você
quer fazer o favor de me deixar de comer meu livro
Federico - vai me
dizer que não gostou?
Clarice -
detestei. cantada barata igual a essa eu
já ouvi de um monte
Federico -
duvido!
Clarice - então
fica aí com a sua dúvida por quê quanto a isso eu não tenho nenhuma. e me dá
licença que eu vou terminar de comer meu livro
(lendo o livro)
Federico - come
chocolate menina, come chocolate. não há mais meta física no mundo do que comer
chocolate.
*
um dia desses quero ser um grande poeta inglês do século
passado dizer ó céus ó mar ó clã ó destino lutar na índia em 1866 e sumir num
naufrágio clandestino.
Ator 2 – Estefany
um gato noturno atira pedras nas estrelas /
palavras e mais palavras na carne da princesa / onde o papel não bate onde o pincel não toca
/ o gato noturno lambe a barriga bem perto da virilha / e trepa no muro mais próximo / tentando alcançar o outro lado da lua / em
seu instante letal
/ de desespero
e solidão.
Ator 3 – Jonas
a tesoura rasga o tecido da carne / enquanto sangra no processo cirúrgico do
poema / corta de cada palavra a sílaba
que não presta / de cada frase a palavra /
de cada sílaba a letra morfa /
e o poeta vai vivendo no que resta.
Ator 4 – Paulo Victor
come osso menina come osso menino
não há mais metafísica no mundo
do que comer osso / no açougue ou no mercado / osso de graça já foi dado /
hoje é vendido hoje é comprado / come osso maria come osso mané come osso joão / com arroz e feijão quebrado / porque nesse país sem nome / temos que comer osso para matar a nossa fome
Dalton Freire
– Sax
um dia desses não quero ser Paulo Leminski / nem dançar como
Nijinski ou escrever feito Pessoa / numa
boa / quero voltar a Curitiba e sair da
pindaíba escancarar o Beleléu - quero
ouvir Carlos Careqa esse - Filho de Ninguém e botar fogo no céu onde o anjo
diz: Amém! / quero ser o Nego Dito ou
será o Benedito do Itamar da Assumpção /
um dia desses
/ quero ser um João
Gilberto / e quem sabe Caetano seja como for em dó ré mi fá lá si dó pra
explodir o meu silêncio e tropicanizar em Salvador /
quero ser um Pai de Santo para fazer da flor de Lys a minha flor / e como um filho de Xangô festejar o meu amor
com meu Salgueiro campeão.
dia desses / quero ser um Celso Borges / quero ser um Cláudio
Willer / quero ser Eliakin / um Ademir Assunção / quero ser sempre Plural / estar sempre em profusão / um dia desses / quero ser Zeca Baleiro / pra
dançar Boi no Terreiro / com Salgado
Maranhão. Um dia desse quero ser César Augusto de Carvalho anistia é o caralho!
ê fome negra incessante / febre voraz
gigante / ê terra de tanta cruz /[ onde se deu 1ª missa / índio rima com carniça /
no pasto pros urubus / oh! My Brazyl
ainda em alto mar / Cabral quando te viu / foi logo
gritando: - Terra à Vista!
e de
bandeja te entregando / pra união
democrática ruralista / por aqui nem só beleza nesses dias de
paupéria / nação de tanta riqueza
/ país de tanta miséria.
Ator 3 – Jonas
ela era Bruna
em noite de blues
rasgado
soltou a voz
feito Joplin
num canto
desesperado
por ser primeiro
de abril
aquele dia
marcado
a voz rasgou a
garganta
da santa loucura
santa
com tanta força
no canto
que até hoje me
lembro
daquela musa na
sala
com tua boca do
inferno
beijando meus
dentes na fala
Ator 4 – Paulo Victor
já podeis
da pátria, filho
ver demente
a mãe gentil
já raiou a liberdade
em cada cano de fuzil
salve lindo
fuzil que balança
entre as pernas
a(r)madas da paz
a gripezinha
era a certeza esperança
de um genocida
imbecil incapaz
conto 13 (césar carvalho – 1ª parte
Dalton Feire - sax
Ator 1 – Beatriz
PoÉtica Fulinaímica fulinaimicamente falando / dar - é se doar emprestar a voz a quem está mais
necessitado do que nós / quem quiser que pense o que quiser / escrevo
no instinto do animal que sou / esteja
onde estiver / venha o que vier / posso ser um homem ou emprestar a voz a
uma mulher profana qualquer / pense o
que quiser / escrevo o que me dá na telha /
centelha da faísca viva / brasa
cerebral do instinto animal pensante que sou / insPiração é um estado de
purificação divina / do humano ser.
Ator 2 – Estefany
quem disse
que amor
é mudo surdo
cego
não sabe o que carrego
em meu
estado de sítio
em meu instante
de surto
Ator
3 – Jonas
No universo paralelo
Tenho mestrado Bíblico
Em chá de cogumelo
Ator 4 – Paulo Victor
A vida sempre
em suspense
alegria
prova dos nove
fanatismo
nã0 me convence
muito menos
me comove
conto 13
(césar carvalho) 2ª parte
Dalton Freire – sax
Ator
1 – Artur
quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele
soprando sulcos na pele soprando sulcos?
Ator 2 – Estefany
o tempo andou riscando meu rosto com uma navalha fina sem
raiva nem rancor o tempo riscou meu rosto com calma
Ator 3 – Jonas
(eu parei de lutar contra o tempo ando exercendo instantes
acho que ganhei presença) acho que a vida anda passando a mão em mim.
Ator 4 – Paulo Victor
a vida anda passando a mão em mim. acho que a vida anda
passando. a vida anda passando. acho que a vida anda. a vida anda em mim. acho
que há vida em mim. a vida em mim anda passando. acho que a vida anda passando
a mão em mim
Dalton Freire – sax
*
Ator 1 – Beatriz
e por falar em sexo quem anda me comendo é o tempo na verdade
faz tempo mas eu escondia porque ele me pegava à força e por trás um dia
resolvi encará-lo de frente e disse: tempo se você tem que me comer que seja
com o meu consentimento e me olhando nos olhos acho que ganhei o tempo de lá
pra cá ele tem sido bom comigo dizem que ando até remoçando
Ator 2 – Estefany
muitas doenças que as pessoas têm são poemas presos abscessos
tumores nódulos pedras são palavras calcificadas poemas sem vazão mesmo cravos
pretos espinhas cabelo encravado prisão de ventre poderia um dia ter sido poema
pessoas às vezes adoecem de gostar de palavra presa
Ator 3 – Jonas
palavra boa é palavra líquida escorrendo em estado de lágrima
lágrima é dor derretida dor endurecida é tumor lágrima é alegria derretida
alegria endurecida é tumor lágrima é raiva derretida
Ator 4 – Paulo Victor
raiva endurecida é tumor lágrima é pessoa derretida pessoa
endurecida é tumor tempo endurecido é tumor tempo derretido é poema palavra
suor é melhor do que palavra cravo que é melhor do que palavra catarro que é
melhor do que palavra bílis que é melhor do que palavra ferida que é melhor do
que palavra nódulo que nem chega perto da palavra tumores internos
Dalton Freire – Sax
*
Ator 1 – Beatriz
palavra lágrima é melhor palavra é melhor é melhor poema - Tem
gente que tem o costume de vazar pelos cantos. No começo vaza calada. Aos
poucos. Aos pingos. Mas se pega gosto principia o derrame. Escorre quando fala.
Escorre quando anda. Não tem mais braço nem cabelo que segure.
Ator 2 – Estefany
Parece que vicia em ficar transbordada. Mas tem gente que
quando transborda é pra dentro. E corre o risco de ficar represada. E represa
você sabe. Se aumenta muito arrebenta.
Ator 3 – Jonas –
Mas se a pessoa ensaia um jeito de derramar pra fora. Aí vai
fazendo leito. Vai abrindo seu caminho na terra. E a terra parece que se abre
pra ela passar. Às vezes não.
Ator 4 – Paulo Victor
Mergulhar a palavra suja em água sanitária. depois de dois
dias de molho, quarar ao sol do meio dia. Algumas palavras quando alvejadas ao
sol adquirem consistência de certeza. Por exemplo a palavra vida.
Dalton Freire – Sax
Ator 1 – Beatriz
Existem outras, e a palavra amor é uma delas, que são muito
encardidas pelo uso, o que recomenda esfregar e bater insistentemente na pedra,
depois enxaguar em água corrente. São poucas as que resistem a esses cuidados,
mas existem aquelas.
Ator 2 – Estefany
Dizem que limão e sal tira sujeira difícil, mas nada. Toda
tentativa de lavar a piedade foi sempre em vão. Agora nunca vi palavra tão suja
como perda. Perda e morte na medida em que são alvejadas soltam um líquido
corrosivo, que atende pelo nome de amargura, que é capaz de esvaziar o vigor da
língua. O aconselhado nesse caso é mantê-las sempre de molho em um amaciante de
boa qualidade.
Ator 3 – Jonas
Agora, se o que você quer é somente aliviar as palavras do uso
diário, pode usar simplesmente sabão em pó e máquina de lavar. O perigo neste
caso é misturar palavras que mancham no contato umas com as outras.
Ator 4 – Paulo Victor
Culpa, por exemplo, a culpa mancha tudo que encontra e deve
ser sempre alvejada sozinha. Outra mistura pouco aconselhada é amizade e
desejo, já que desejo, sendo uma palavra intensa, quase agressiva, pode, o que
não é inevitável, esgarçar a força delicada da palavra amizade.
Dalton Freire – sax
Ator 1 – Beatriz
Já a palavra força cai bem em qualquer mistura. Outro cuidado
importante é não lavar demais as palavras sob o risco de perderem o sentido. A
sujeirinha cotidiana, quando não é excessiva, produz uma oleosidade que dá
vigor aos sons. Muito importante na arte de lavar palavras é saber reconhecer
uma palavra limpa.
Ator 2 – Estefany
Conviva com a palavra durante alguns dias.
Deixe que se misture em seus gestos, que passeie pela
expressão dos seus sentidos. À noite, permita que se deite, não a seu lado mas
sobre seu corpo. Enquanto você dorme, a palavra, plantada em sua carne, prolifera
em toda sua possibilidade. Se puder suportar essa convivência até não mais perceber
a presença dela, então você tem uma palavra limpa.
Ator 3 – Jonas
Uma palavra LIMPA é uma palavra possível. passeio os pés
descalços sobre covas rasas
contando ossos no poema exposto
no sujeito do objeto
tudo isso exposto nesse papo reto
segue o passo norte
não leio cartas de suicídio
nem decreto de hospício
na tentação que me conforte
quero matar o genocídio
pra não morrer
antes da morte
Ator 4 – Paulo Victor
Aqui redes em pânico
pescam esqueletos no mar
esquadras descobrimento
espinhas de peixe convento
cabrálias esperas
relento
escamas secas no
prato
e um cheiro podre
no AR
caranguejos explodem
mangues em pólvora
é surreal a nossa realidade
tubarões famintos devoram cadáveres
em nossa sala de jantar
como levar o barco
em meio a essa tempestade
navegar é preciso
mas está dificilíssimo navegar
Dalton Freire – Sax
Ator 1 – Artur
eu sou como eu sou pronome pessoal
intransferível do homem que iniciei na medida do impossível
eu sou como eu sou agora sem
grandes segredos dantes sem novos secretos dentes nesta hora
eu sou como eu sou presente desferrolhado
indecente feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou vidente e
vivo tranqüilamente todas as horas do fim.
Ator 2 – Estefany
Um homem com uma dor É muito
mais elegante Caminha assim de lado Com se chegando atrasado Chegasse mais
adiante
Carrega o peso da dor Como se
portasse medalhas Uma coroa, um milhão de dólares Ou coisa que os valha
Ópios, édens, analgésicos Não
me toquem nesse dor Ela é tudo o que me sobra Sofrer vai ser a minha última
obra
Ator 3 – Jonas
meta
dentro meta fora
que a meta desse trem agora
é seta nesse tempo duro
meta palavra reta
para abrir qualquer trincheira
na carne seca do futuro
meta dentro dessa meta
a chama da lamparina
com facho de fogo na retina
pra clarear o fosso escuro
Ator 4 – Paulo Victor
Deus não joga dados
mas a gente lança
sem nem mesmo saber
se alcança
o número que se quer
mas como me disse mallarmè
:
- vida não é lance de dedos
A vida é lança de dardos
Deus não arde no fogo
mas
eu ardo
conto 13 (césar carvalho) 3ª parte
Dalton Freire – Sax
Ator 1 – Artur
A poesia Quando chega Não
respeita nada. Nem pai nem mãe. Quando ela chega De qualquer de seus abismos
Desconhece o Estado e a Sociedade Civil Infringe o Código de Águas Relincha
Como puta Nova Em frente ao Palácio da Alvorada. E só depois Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal Embala no colo Os que têm sede de felicidade E de
justiça. E promete incendiar o país.
Ator 2 – Estefany
olho dentro do teu olho
para que olhe na minha cara
e cara a cara me diga
a quantas anda a nossa briga
do nosso amor pela ética
se é tão estranha a poética
de só pensar lá na frente
que até perdi a conta
nesse pretérito faz de contas
das quantas vezes
que já votei pra presidente
e o nosso país do futuro
que nunca chega no presente
Ator 3 – Jonas
Eu poderia abrir teu corpo com os meus dentes / rasgar panos e
sedas / com as unhas arreganhar as tuas fendas / desatar todos os nós / da tua cama arrancar os cobertores / rasgando
as rendas dos lençóis
perpetuar a ferro e fogo /
minhas marcas no teu útero / meus
desejos imorais / maldizendo a hora soberana / com a força
sobre humana dos mortais / quando vens
me oferecer migalha e fruto / como quem
dá de comer aos animais
Ator 4 – Paulo Victor
todo os dias
capino a esperança
escavando outras palavras
no chão desse quintal
e quando escrevo com enxada
o
poema é mais real
Dalton
Freire – Sax
Ator 1 – Artur
o outubro
me deixou no tudo nada
a luz branca sem sono
em nossos corpos de abandono
ela arquitetava uma nesga
entre as frestas da janela
luz do luar nos olhos dela
girassóis em desmantelos
por entre poros entre pelos
minhas unhas tuas costas
Amsterdã nos teus cabelos
o que Van Gog me trazia
era branca noite de outono
que amanheceu sem ver o dia
nossos corpos estavam tomados
de vinho tinto e poesia
Ator 2 – Estefany
na roça desde cedo comecei a escavar palavras e
separar uma das outras de acordo com o seu significado dar farelo de milho para
os porcos e olhadura de cana para o gado aprendi que no terreiro não dependo de
mercado e para que urbanidade se a cidade não tem paz com a enxada capinei a
liberdade e descobri que ditadura
é uma palavra que não cabe nunca mais
Ator 3 – Jonas
quando escrevo e eu mesmo não entendo o significado de uma
determinada metáfora lanço a maldita no vento invento outra e vou ao centro do
universo e xingo teu nome: garrutio lamparão de bico kabrunco de poema que não me dá sossego
Ator 4 – Paulo Victor
era uma vez um mangue
e por onde andará Macunaíma
(Ainda estou aqui)
na sua carne no seu sangue
na medula no seu osso
será que ainda existe
algum vestígio de Macunaíma
na veia do seu pescoço
tá no canto da sereia
no rabo da arraia
nos barracos da favela
nos becos do matadouro
na usina sapucaia?
na teoria dos
mistérios
dos impérios
dos passados
nas covas dos
cemitérios
desse brasil desossado?
macunaíma não
me engana
bebeu água do
paraíba
nos porões dos satanazes
está nos corpos incinerados
na usina de cambaíba
em campos dos goytacazes
macunaíma não
me engana
está nas
carcaças desovadas
na praia de
manguinhos em
são francisco do itabapoana
Joilson Bessa me disse
Kapiducéu já ensaia
Macunaíma vem vindo
no Auto do Boi Macutraia
Dalton Freire – Sax
Ator 1 – Artur
diante de tudo que tenho falado despido lido escrito ser mestre/sala não é uma
missão apenas por ter incorporado a Mocidade Independente de Padre Olivácio em ouro preto das minas
/ e não é sina / tem mais angu nesse
caroço cabeça nesse prego não nego estou
metido nessa trama dos pés aos fios de cabelo em cada uma das nervuras desse
osso debaixo dos lençóis de cada cama tem
segredos e mistérios que sendo revelados deixariam qualquer país em alvoroço
Ator 2 – Estefany
em vampiro goytacá
canibal tupiniquim
somos serAfim
todas nós somos
vampiras
numa página a gente transa
noutra página a
gente pira
Ator 3 – Jonas
foi-se a era de belos índios índios belos
ensinando forma de viver na amazônia
hoje a selva sangra agro negócio
soja pastos novos sócios para o gado
paralelo
Ator 4 – Paulo Victor
vou-me embora pra girona
lá tem caminhos de sal
cheiro forte de mulher
não precisamos obedecer
as ordens de portugal
nem de um outro rei qualquer
Dalton Freire – Sax
Ator 1 – Beatriz
vou-me embora pra girona
aqui roubaram
tudo que eu tinha
e tem supermercado
em especial de natal
vendendo pé de galinha
vou-me embora pra girona
a carne seca no telhado
as gordas coxas da madona
o rala buxo no mercado
os grandes bailes de sodoma
nem servem mais com farinha
Ator 2 – Estefany
vou-me embora pra girona
lá não tem matriarcado
alegria no mercado
e um carnaval de mulher
e todas flores do mal
são pétalas de um
bem-me-quer
Ator 3 – Jonas
aves de rapina sobrevoam os céus de brazilírica / vender é o grande jogo dos governantes de negócios / não é metáfora metafísica figura de linguagem
/ é a mais pura sacanagem / eles dão o
golpe na calada da noite / no romper da
madrugada / vendem a coisa pública
/ porque gostam da privada
Ator 4 – Paulo Victor
lady minha amada
me deixou fora da cama
a fama
lhe subiu pela cabeça
mas antes que ela esqueça
vos digo
quem foi o primeiro
a lhe oferecer abrigo?
quem foi o primeiro
a lhe dar carinho
e encher o seu aquário
de peixinhos?
Dalton Freire – sax
Ator 1 – Artur
irina se escondeu na pluma feito bruna se libertou da bruma e flutuou no ar voou de nova deli a Bagdá tentou me encontrar mas foi inútil eu tinha seguido para o norte procurando a sorte que não tive aqui no sul bati em portas de marabaia a estambul e foi um corte que dei no tal destino e num instante meio brusco repentino rasguei os trilhos e fui parar em Paraty federika desembestou foi pra recife desde então nunca mais em telavive desde então nunca mais na tela vi
Irina e Federico – o primeiro encontro
Federico – o que é que você está fazendo
aqui?
Irina – procurando o que fazer
Federico – o que fazer aqui é difícil!
Irina - Acho não
Federico – então venha
Irina – primeiro preciso criar meu
figurino e me maquiar
Federico – Nada disso, faz assim mesmo
como você está
Irina – não, assim não, assim eles vão
pensar que não sou ela
Federico – Ela quem?
Irina – posso ser a Serafina, Clarice
Beatriz, ou qualquer outra. Só não posso ser a Rúbia Querubim porque essa é
meio complicada, porque gosta de quibe de peixe
Federico – e por quê?
Irina – não gosto de quibe nem de peixe
e em Iriri parece que só tem isso pra comer
Federico – você quer um espelho?
Irina – pra quê?
Federico – pra você ver como está
vermelha!
Irina – ando meio assustada
mesmo, muito estranho isso aqui
Federico – Teatro do Absurdo
Irina – mas parece que era o que eu tanto procurava. Mas não sei
se realmente encontrei
Federico – Por quê?
Irina – minha mãe é muito estranha
Federico – é assim mesmo, aqui todos nós
somos estranhos somos vampiros serafins
Irina – uma ora ela é clarice e de
repente beatriz, e não tem nada a ver uma com a outra, não se parecem nem um
pouco, isso quase me pira
Federico – mas aqui numa página a gente
transa noutra página a gente pira
Irina – mas isso pra mim é muito novo
e chega a ser pirante mesmo
Federico -ah! relaxa e goza, que as
metáforas de uma cruel realidade são sempre mais reais
Irina – então deixa eu ir ali me
maquiar
Federico – precisa não transa assim mesmo
Irina – transa? Como assim?
Federico – aqui transa é trabalho, quando
mais a gente transa mais experientes ficamos
Irina – você é experiente?
Federico – acho que sim , pelo menos é o
que dizem por aí?
Irina – ah, então quero trabalhar com
você. Vou criar um figurino massa e uma maquiagem vampiresca quero me tornar a
grande vampira serafim na grande aldeia do canibal tupiniquim
Federico – então vai quero ver você nessa
vampirinha serafina pra Macunaíma nenhum colocar defeito
Irina – Macunaíma? Quem é ele?
Federico – é o nosso herói sem nenhum
caráter
Irina – como assim?
Federico – é porque ele é uma mistura
quase assim como a clarice/beatriz, sua mãe, e a gente pra entender mesmo quem
ele é temos que procurar muito, e mergulhar profundamente numa leitura sobre o
povo brasileiro, da mesma forma como fez Darcy Ribeiro.
Irina – mas isso dá muito trabalho?
Federico – Mas tudo que a gente faz aqui é
parte do trabalho
Irina - pois então, já vou – (abraça federico
afetuosamente simula um beijo, olha olho no olho, é agora ainda não, e sai de
cena)
Federico – vou ficar aqui orando pra ela
voltar – como poesia devoro pra matar a fome, quando oro o prazer tem outro
nome
Ator 2 – Estefany
“hoje não tem fernando pessoa”
Nem Caetano Veloso
meu corpo não trafega
escandaloso
meu coração não se entrega
às tabacarias de lisboa
o poema pode ser
um beijo nessa pedra
antes que me fedra
o poema voa
Ator 3 – Jonas
carinhosamente
bebo os olhos teus
pra matar a sede
e aflição dos meus
toda água desse rio
beberia eternamente
pois a minha sede
não se mata de repente
é paixão que não tem hora
pra poder chegar
barco que vai embora
sem saber voltar
navegando mar inteiro
vales rios velas cais
pois a sede dos meus olhos
não se mata nunca mais
Ator 4 – Paulo Victor
irina não voronkova
mesmo sendo a rainha
do time de volley
da mocidade independente
de padre olivácio
pastor de andrade o devasso
está de olho nela
mato aquele desgraçado
se eu o pegar no -
compasso
olhando novamente
pela fresta da janela
Dalton Freire – Sax
Artur e Estefany – A mulher que matou os
peixes
Teatro do
Absurdo – A Mulher Que Come Livros
A Mulher Que Matou os peixes
(cena com Federico Baudelaire/Artur Gomes e Irina/Estefany Nogueira )
*
Federico - ei vai
pra onde?
Clarice – vou
ali terminar de comer meu livro
Federico – come
aqui mesmo
Clarice – então
para de me fazer perguntas
Federico – não
posso
Clarice – não
pode por quê?
Federico – porque
sou curioso
Clarice –
curiosidade mata
Federico – você é
a mulher que matou os peixes?
Clarice – na
outra vida, outra encarnação
Federico – e você
acredita nisso?
Clarice – claro
que acredito, tanto é que estou aqui. E agora não mato peixes, agora como
livros. E para comer livros não preciso matar, basta guardar, preservar, para
ler na hora que tenho vontade.
Federico – mas
por quê você tem vontade de comer livros?
Clarice – para me
enriquecer de conhecimentos, informações, ter contato com os sentimentos dos
outros e as suas visões de mundo.
Federico – mas
isso a gente encontra no carnaval – no desfile das Escolas de Samba por exemplo
Clarice – mas eu
já lhe disse, detesto carnaval
Federico – Isso
porque você nunca viu. Nunca foi na marquês de Sapucaí
Clarice – não
muda de assunto não, e acho bom você me deixar terminar de comer meu livro
Federico – a fome
é tanta assim?
Clarice – fome,
sede, desejo tudo junto misturado
Federico – você
não sabe fazer outra coisa não?
Clarice –
procuro... procuro mas não encontro, outra coisa que me dê tanta satisfação
como come livros! E acho que você deveria fazer o mesmo.
Federico – tá
doida. Era só o que me faltava eu um Mestre Sala da Mocidade Independente de
Padre Olivácio a Escola de Samba Oculta no Inconsciente Coletivo, comendo
livro!
Clarice – e qual
é o grande problema nessa questão, eu por exemplo. Já matei os peixes, hoje
como livros. Não vejo nenhuma contradição. Porque você que se diz mestre/sala
não pode comer um livro?
Federico –
simplesmente porque gosto do movimentos dos corpos sambando na avenida
Clarice – mas
isso é muito pouco – eu gosto de comer livros porque cada coisa tem o instante
em que ela é, e eu quero me apossar do é da coisa. E para mim corpos em
movimento na avenida não significa coisa alguma. Não vejo graça nenhuma em
carnaval.
Artur - quero dizer que ainda arde tua
manhã em minha tarde a tua noite no meu dia tudo em nós que já foi feito com
prazer inda faria
quero dizer que ainda é cedo ainda tenho um samba-enredo e
tudo em nós é carnaval é só vestir a fantasia quero ser teu mestre-sala e você
porta/bandeira quando chegar na quarta-feira a gente inventa outra fulia
Estefany – tá doido
Ator 1 – Arturfosse esta menina Monalisa
ou se não fosse apenas brisa
diante da menina dos meus olhos
com esse mar azul nos olhos teus
não sei se MichelÂngelo
Da Vinci Dalí ou Portinari
te anteviram
no instante maior da criação
pintura de um arquiteto grego
quem sabe até filha de Zeus
e eu Narciso amante dos espelhos
procuro um espelho em minha face
para ver se os teus olhos
já estão dentro dos meus
eu te desejo flores
lírios brancos margaridas
girassóis
rosas vermelhas
e tudo quanto pétala
asas estrelas borboletas
alecrim bem-me-quer e alfazema
eu te desejo emblema
deste poema desvairado
com teu cheiro
teu perfume
teu sabor, teu suor
tua doçura
e na mais santa loucura
declarar-te amor até os ossos
eu te desejo e posso
palavrArte até a morte
enquanto a vida nos procura
The End
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