sábado, 12 de abril de 2025

balbúrdia poÉtica - agenda

Balbúrdia PoÉtica

Agenda:

 

Balbúrdia PoÉtica 6 –

Artur Gomes e José Facury

Dois Perdidos Em Seus Poemas Sujos

Dia 17 de maio 20h

Usina4 – Casa das Artes

Cabo Frio-RJ

 

Balbúrdia PoÉtica 7

Dia 23 de maio – 19:30h

Santa Paciência Casa Criativa

Rua Barão de Miraema, 81

 

Balbúrdia PoÉtica 8

Dia 27 de maio – 19:30h

Museu Histórico de Campos

 

Balbúrdia PoÉtica 9

Dia 4 de junho das 14:30 às 16h

Na 12ª Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes – CEPOP

 

Criação & Direção – Artur Gomes

Coletivo Macunaíma De Cultura

Fulinaíma MultiProjetos

22 99815-1268 – whatsapp

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https://fulinaimargem.blogspot.com/

engenho

 

minha terra

é de senzalas tantas

enterra em ti

milhões de outras esperanças

soterra em teus grilhões

a voz que tenta – avança

plantada em ti

como canavial

que a foice corta

mas cravado em ti

me ponho à luta

mesmo sabendo – o vão

- estreito em cada porta

 

Artur Gomes

Poema dos livros: Suor & Cio – 1985

Carne Viva – Antologia de Poesia Erótica – Org. Olga Savary – 1986

Pátria A(r )mada – 2ª Edição – Desconcertos Editora – 2022

eu, liberdade

sou livre, sim.
liberdade do tipo que faz barulho
com o corpo inteiro —
até os ossos fazem festa
quando passo pelas esquinas do tédio.

tenho uma inteligência inconveniente,
dessas que não se curva
pra nenhum deus de gravata.
meus pensamentos mastigam convenções
como quem tritura gelo
numa noite de insônia.

carrego ironias no bolso,
como quem guarda pedrinhas
pra atirar em telhados de vidro.
às vezes finjo que acredito no sistema,
só pra vê-lo tropeçar
no próprio verbo.

liberdade é meu codinome,
mas não essa de outdoor
nem de bandeira lavada.
é a que acorda comigo
com o hálito amargo da verdade
e um sorriso de navalha.

eu sou livre porque sei rir —
principalmente de mim.
e isso, coisa de raro engenho,
é o que mais assusta os ignóbeis.

tenho um sarcasmo terno,
feito beijo na testa antes do adeus.
e uma lucidez que atormenta,
mas anda ereta,
mesmo quando manca.

se quiser me entender,
não leia o que escrevem.
desconfie.
sou livro escrito à unha,
sem capa e páginas arrancadas.

sou labirinto com saída,
mas sem mapa.
e quem me encontra,
nunca mais quer se perder.

Simone Bacelar

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Festival Infanto Juvenil

 De Esquetes Teatrais

 

Objetivo:

Incentivo a formação de novos talentos para a cena teatral da cidade de Campos dos Goytacazes-RJ

 

Regulamento: 

1 -   Os esquetes poderão ser encenados por atores e atrizes na faixa etária dos 5 aos 18 anos. 

2 - Os esquetes deverão ter no máximo 10 minutos de duração e 3 minutos para montagem e retirada de cenários ou objetos cênicos. 

3 – Os esquetes podem ser de autoria do grupo proponente ou não. 

4 – Os esquetes podem ser encenados por 1   ou mais atores, de acordo com as características do texto a ser encenado. 

5 -  Da premiação:

Em busca de patrocínios, ou parcerias que possam contribuir para que possamos oferecer uma premiação adequada com a importância do  projeto

 

Artur Gomes

Fulinaíma MultiProjetos

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Balbúrdia PoÉtica 6

Artur Gomes e José Facury

Dois Perdidos Em Seus Poemas Sujos

poetas convidados: Jiddu Saldanha e Tanussi Cardoso

Dia 17 de Maio – 20h

Usina4 Casa das Artes

Rua Geraldo de Abreu, 4

Cabo Frio-RJ

 

era uma vez um mangue

 

era uma vez um mangue

e por onde andará

Macunaíma?

(Ainda estou aqui)

na sua carne no seu sangue

na medula no seu osso

será que ainda existe

algum vestígio de Macunaíma

na veia do seu pescoço?

 

tá no canto da sereia

no rabo da arraia

nos barracos da favela

nos becos do matadouro

na usina sapucaia?

 

na teoria dos mistérios

dos impérios dos passados

nas covas dos cemitérios

desse brasil desossado?

macunaíma não me engana

bebeu água do paraíba

nos porões dos satanazes

está nos corpos incinerados

na usina de cambaíba

em campos dos goytacazes

 

macunaíma não me engana

está nas carcaças desovadas

na praia de manguinhos em

são francisco do Itabapoana

 

Joilson Bessa me disse

Kapiducéu já ensaia

Macunaíma vem vindo

no Auto do Boi Macutraia

 

Artur Gomes 

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      O sax no som da palavra

         dentro                do poema

 

                           Roteiro

    Irina - O som vem do sopro penetra na palavra dentro do poema flutua no ar como os olhos verdes da menina de pele preta que oculta sobrevoa na sala sobre  cabeças incrédulas que ainda não conhecem  o estado de poesia

sua flauta está me fazendo falta  na minha boca de batom teu sax uma máquina de som

fulinaimicamente  a boca do desejo morde a carne dos meus dentes e desassossega  minha língua em tua boca quando dá o tom : fulinaimicamente

 

Artur Gomes - O COISA RUIM

 

me querem manso cordeiro imaculado

sangrado no festim dos canibais

me querem escravo ordeiro serviçal

salário apertado no bolso cego mudo e boçal

me querem rato acuado rabo entre as pernas medroso um verme, pegajoso

mas eu sou osso duro de roer caroço faca no pescoço maremoto, tufão, furacão

mas eu sou cão lato mordo arreganho os dentes incito a revolta dos deuses toco fogo na cidade qual nero devasto o lero lero entro em campo desempato eu sou o que sangra um poeta nato


                                           Ademir Assunção

                                           

                                  Artur - fulinaimagem

1

por enquanto  vou te amar assim em segredo  como se o sagrado fosse  o maior dos pecados originais  e minha língua fosse só furor dos Canibais  e essa lua mansa fosse faca  a afiar os versos que inda não fiz  e as brigas de amor que nunca quis  mesmo quando o projeto  aponta outra direção embaixo do nariz  e é mais concreto  que a argamassa do abstrato -  por enquanto vou te amar assim  admirando teu retrato  enquanto penso minha idade  e o que trago da cidade  embaixo as solas dos sapatos - 2  - o que trago  embaixo as solas dos sapatos é fato  bagana acesa   sobra do cigarro é sarro  dentro do carro  ainda ouço Jimmi Hendrix quando quero  dancei bolero sampleAndo rock and roll  prá colher lírios  há que se por o pé na lama  a seda pura foto/síntese do papel  tem Flor de Lótus nos bordéis Copacabana  procuro um mix da guitarra de Santanna  com os espinhos da Rosa de Noel

                     Jonas e Estefany - Negro Sou

Artur Gomes - ouvidos negros Miles trumpete nos tímpanos era uma criança forte como uma bola de gude era uma criança mole como uma gosma de grude tanto faz quem tanto não me fez era uma ant/Versão de blues nalguma nigth noite uma só vez

ouvidos black rumo premeditando o breque sampa midinigth ou aVersão de Brooklin não pense aliterações em doses múltiplas pense sinfonia em rimas raras assim quando desperta do massificado ouvidos vais ficando dançarina cara ao Ter-te Arte nobre minha musa Odara

ao toque dos tambores ecos sub/urbanos elétricos negróides urbanóides gente galáxias relances luzes sumos pratos delícias de iguarias que algum Deus consente aos gênios dos infernos que ardem gemem Arte

misturas de comboios das tribos mais distantes de múltiplas metades juntas numa parte

       Paulo Victor – A morte de Mônica

Federico - o amor não e apenas um nome que anda por sobre a pele um dia falo letra por letra no outro calo fome por fome é que a flor da tua pele consome a pele do meu nome cravado espinho na chaga como marca cicatriz eu sou ator ela esfinge clarice/beatriz

assim vivemos cantando fingindo que somos decentes para esconder o sagrado em nosso profanos segredos se um dia falta coragem a noite sobra do medo é que na sombra da tatuagem sinal enfim permanente ficou pregando uma peça em nosso passado presente o nome tem seus mistérios que se escondem sob panos o sol e claro quando não chove o sal e bom quando de leve para adoçar desenganos na língua na boca na neve o mar que vai e vem não tem volta o amor é a coisa mais torta que mora lá dentro de mim teu céu da boca e a porta onde o poema não tem fim

Federico e Beatriz Teatro do Absurdo –

A mulher que come livros 

 

Federico - Beatriz!

Beatriz - o que é Federico

Federico - o que tanto lê aí nesse estranho livro?

Beatriz - é sobre a possibilidade de uma invasão cibernética que vai acontecer em 2020

Federico - Pirou?

Beatriz - não é o que o cientista está dizendo aqui?

Federico - qual é o nome dele?

Beatriz - Federico Baudelaire

Federico- claro só podia ser ele , esse cara é louco!

Beatriz - mas  o que ele está dizendo aqui tem lógica

Federico - bebeu?

Beatriz - Água

Federico - pelo jeito acho que não foi água não

Beatriz - está duvidando de mim?

Federico - claro que duvido. nem te conheço direito, e você passa o tempo todo enfiada nesse livro, escrito por um maluco, que acha que vamos ter invasão cibernética, como não vou duvidar?

Beatriz - mas você devia acreditar, tudo leva a crer que esta invasão pode acontecer mesmo.

Federico - Só porque você quer. acho que seus neurônios já não estão funcionando muito bem não.

Beatriz - você é um ateu não acredita em nada

Federico - eu acredito em muita coisa, mas não posso acreditar num absurdo desses

Beatriz- só porque é cego

Federico - se fosse cego não estaria te vendo aí.

Beatriz - como está me vendo?

Federico - com os olhos

Beatriz- não foi isso que perguntei

Federico - como perguntou então?

Beatriz- de que maneira está me vendo, feia, bonita, linda, elegante.

Federico- não tem espelho não?

Beatriz- mal educado!

Federico - não se trata de educação, é uma questão de ponto de vista.

Beatriz- mas não respondeu minha pergunta!

Federico - você se acha!

Beatriz- há muito tempo, desde que me olhei a primeira vez no espelho

Federico - deve ser por isso que acredita em invasão cibernética

Beatriz- Vamos mudar de assunto, porque já está m torrando o saco essa sua conversa

Federico - mudar pra quê?

Beatriz- vou tomar um banho para ir ao super mercado

Federico - quanta vaidade! precisa tomar banho para ir ao super mercado?

Beatriz- questão de higiene meu caro!

Federico - boa viagem...

Beatriz– espera aí, esqueci que tenho que fazer uma lição de casa

Federico – Lição de casa? Que lição é essa?

Beatriz– é um teste que vou fazer amanhã para o teatro do  Absurdo um texto de Fernando Arrabal, não Arrabal não é do Beckett. Uma ideia que me surgia na Cal mas tinha me esquecido

Federico – Agora pirou de vez! (sai de cena)

Beatriz– (sai de cena e volta rápido com um livro na mão - O Homem Com A Flor Na Boca. ) Acho que vou fazer uma adaptação porque o que na verdade o que eu quero encenar está aqui nesse livro que achei no sebo do mercado municipal de campos dos Goytacazes - (abre o livro e escolhe o texto).

Beatriz - eu sou avessa atravesso a cidade  com o que me interessa / as vezes sou sossego outras vezes tenho pressa / não procuro o que não quero / me abstenho no que faço / me abstrato quando posso / me concreto em cada passo / o compasso é argamassa o absinto é quando traço  uma linha nunca reta da palavra em descompasso / se sou torta não importa /  em cada porta risco um ponto / pra revelar os meus destroços  / no alfabeto do desterro a carnadura dos meus ossos

                          Teatro do Absurdo 8

a mulher  que come livros – cena 1

 

Federico - come vento menina come vento. não há mais metafísica no mundo do que comer vento

Clarice - prefiro chocolate

Federico - mas isso aí é um livro

Clarice - não faz mal, é como se fosse

Federico - como se fosse é muito vago

Clarice - pode ser vago pra você mas para mim não é

Federico - você é muito estranha

Clarice - estranha por quê?

Federico - parece até que come livros!

Clarice - e o quê você tem com isso? te incomoda?

Federico - calma, não precisar se irritar!

Clarice - mas quem disse que estou irritada?

Federico - do jeito que você fala!

Clarice - e você queria que eu falasse como?

Federico - normal

Clarice - mas eu falo normal como eu falo esse é o meu normal de falar.  Se não está gostando dá licença, e para de fazer perguntas.

Federico - grossa!

Clarice - não gosto de muitas perguntas. sou assim mesmo

Federico - mas não precisa xingar!

Clarice - e quem foi que xingou?

Federico - se não xingou foi quase

Clarice - me deixa em paz. que eu quero terminar de comer meu livro

Federico - é doida, comer seu livro?

Clarice - modo de dizer. já te disse sou assim mesmo

Federico - assim mesmo como?

Clarice - gosto de comer livros, romances, ficção, principalmente  poesia

Federico - quero dizer que ainda arde tua manhã em minha tarde

Clarice - nem vem que não tem

Federico - nem tem o quê?

Clarice - essa cantada barata

Federico - tua noite no meu dia

Clarice - vai insistir?

Federico  - tudo em nós que já foi feito com prazer ainda faria

Clarice - o que nós já fizemos? tá doido?

Federico - quero dizer que ainda é cedo ainda tenho um samba/enredo

Clarice - fique sabendo que prá mim é tarde

Federico - tudo em nós é carnaval é só vestir a fantasia

Clarice - detesto carnaval

Federico - quero ser teu mestre sala e você porta/bandeira. quando chegar a quarta-feira a gente inventa outra folia

Clarice - você quer fazer o favor de me deixar de comer meu livro

Federico - vai me dizer que não gostou?

Clarice - detestei.  cantada barata igual a essa eu já ouvi de um monte

Federico - duvido!

Clarice - então fica aí com a sua dúvida por quê quanto a isso eu não tenho nenhuma. e me dá licença que eu vou terminar de comer meu livro

(lendo o livro)

Federico - come chocolate menina, come chocolate. não há mais meta física no mundo do que comer chocolate.

*

                          Ator 1 – Beatriz  –

um dia desses quero ser um grande poeta inglês do século passado dizer ó céus ó mar ó clã ó destino lutar na índia em 1866 e sumir num naufrágio clandestino.

Ator 2 – Estefany

um gato noturno atira pedras nas estrelas  /  palavras e mais palavras na carne da princesa /   onde o papel não bate onde o pincel não toca / o gato noturno lambe a barriga bem perto da virilha /  e trepa no muro mais próximo /  tentando alcançar o outro lado da lua / em seu instante letal

/ de desespero       e                       solidão.

Ator 3 – Jonas

a tesoura rasga o tecido da carne /  enquanto sangra no processo cirúrgico do poema /  corta de cada palavra a sílaba

que não presta  /  de cada frase a palavra /

de cada sílaba a letra morfa /  e o poeta vai vivendo no que resta.

Ator 4 – Paulo Victor

come osso menina come osso menino

não há mais metafísica no mundo

do que comer osso / no açougue ou no mercado /  osso de graça já foi dado /

hoje é vendido hoje é comprado  /  come osso maria come osso mané come osso joão /  com arroz e feijão quebrado /   porque nesse país sem nome / temos que comer osso para matar a nossa fome

Dalton Freire – Sax

                              Ator 1 – Artur

um dia desses não quero ser Paulo Leminski / nem dançar como Nijinski ou escrever feito Pessoa /  numa boa /  quero voltar a Curitiba e sair da pindaíba escancarar o Beleléu -  quero ouvir Carlos Careqa esse - Filho de Ninguém e botar fogo no céu onde o anjo diz: Amém! /  quero ser o Nego Dito ou será o Benedito do Itamar da Assumpção /  um dia desses

 / quero ser um João Gilberto / e quem sabe Caetano seja como for em dó ré mi fá lá si dó pra explodir o meu silêncio e tropicanizar   em Salvador /  quero ser um Pai de Santo para fazer da flor de  Lys a minha flor /  e como um filho de Xangô festejar o meu amor com meu Salgueiro campeão.

dia desses / quero ser um Celso Borges / quero ser um Cláudio Willer / quero ser Eliakin / um Ademir Assunção /  quero ser sempre Plural /  estar sempre em profusão /  um dia desses / quero ser Zeca Baleiro / pra dançar Boi no Terreiro /  com Salgado Maranhão. Um dia desse quero ser César Augusto de Carvalho anistia é o caralho!

         Ator 2 – Estefany

ê fome negra incessante / febre voraz gigante / ê terra de tanta cruz /[ onde se deu 1ª missa /  índio rima com carniça /

no pasto pros urubus /  oh! My  Brazyl  ainda em alto mar / Cabral quando te viu /  foi logo gritando:  - Terra à  Vista!

 e de bandeja te entregando /  pra união democrática ruralista / por aqui nem só beleza  nesses dias de paupéria / nação de tanta riqueza / país de tanta miséria.

 Ator 3 – Jonas

ela era Bruna

em noite de blues rasgado

soltou a voz feito Joplin

num canto desesperado

por ser primeiro de abril

aquele dia marcado

 

a voz rasgou a garganta

da santa loucura santa

com tanta força no canto

que até hoje me lembro

daquela musa na sala

 

com tua boca do inferno

beijando meus dentes na fala

 

Ator 4 – Paulo Victor

 

já podeis

da pátria, filho

ver demente

a mãe gentil

 

já raiou a liberdade

em cada cano de fuzil

 

salve lindo

fuzil que balança

entre as pernas

a(r)madas da paz

 

a  gripezinha

era a certeza esperança

de um genocida

imbecil incapaz

 

conto 13 (césar carvalho – 1ª parte

            Dalton Feire - sax 

Ator 1 – Beatriz

PoÉtica Fulinaímica fulinaimicamente falando /  dar - é se doar  emprestar a voz a quem está mais necessitado do que nós / quem quiser que pense o que quiser / escrevo no instinto do animal que sou  / esteja onde estiver / venha o que vier / posso ser um homem  ou emprestar a voz   a uma mulher profana qualquer /  pense o que quiser / escrevo o que me dá na telha /  centelha da faísca viva /  brasa cerebral do instinto animal pensante que sou / insPiração é um estado de purificação divina /  do humano ser.


Ator 2 – Estefany

quem disse que amor
é mudo surdo cego
não sabe o que carrego

em meu estado de sítio
em meu instante  de surto


Ator 3 – Jonas

No universo paralelo

Tenho mestrado Bíblico

Em chá de cogumelo


Ator 4 – Paulo Victor

A vida sempre em  suspense

alegria prova dos nove

fanatismo nã0 me convence

muito menos me comove

 

conto 13 (césar carvalho) 2ª parte

 

                           Dalton Freire – sax 

                            Ator 1 – Artur

quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele soprando sulcos?

Ator 2 – Estefany

o tempo andou riscando meu rosto com uma navalha fina sem raiva nem rancor o tempo riscou meu rosto com calma

Ator 3 – Jonas

(eu parei de lutar contra o tempo ando exercendo instantes acho que ganhei presença) acho que a vida anda passando a mão em mim.

Ator 4 – Paulo Victor

a vida anda passando a mão em mim. acho que a vida anda passando. a vida anda passando. acho que a vida anda. a vida anda em mim. acho que há vida em mim. a vida em mim anda passando. acho que a vida anda passando a mão em mim

Dalton Freire – sax

*

Ator 1 – Beatriz

e por falar em sexo quem anda me comendo é o tempo na verdade faz tempo mas eu escondia porque ele me pegava à força e por trás um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo se você tem que me comer que seja com o meu consentimento e me olhando nos olhos acho que ganhei o tempo de lá pra cá ele tem sido bom comigo dizem que ando até remoçando

Ator 2 – Estefany

muitas doenças que as pessoas têm são poemas presos abscessos tumores nódulos pedras são palavras calcificadas poemas sem vazão mesmo cravos pretos espinhas cabelo encravado prisão de ventre poderia um dia ter sido poema pessoas às vezes adoecem de gostar de palavra presa

Ator 3 – Jonas

palavra boa é palavra líquida escorrendo em estado de lágrima lágrima é dor derretida dor endurecida é tumor lágrima é alegria derretida alegria endurecida é tumor lágrima é raiva derretida

Ator 4 – Paulo Victor

raiva endurecida é tumor lágrima é pessoa derretida pessoa endurecida é tumor tempo endurecido é tumor tempo derretido é poema palavra suor é melhor do que palavra cravo que é melhor do que palavra catarro que é melhor do que palavra bílis que é melhor do que palavra ferida que é melhor do que palavra nódulo que nem chega perto da palavra tumores internos

Dalton Freire – Sax

*

Ator 1 – Beatriz

palavra lágrima é melhor palavra é melhor é melhor poema - Tem gente que tem o costume de vazar pelos cantos. No começo vaza calada. Aos poucos. Aos pingos. Mas se pega gosto principia o derrame. Escorre quando fala. Escorre quando anda. Não tem mais braço nem cabelo que segure.

Ator 2 – Estefany

Parece que vicia em ficar transbordada. Mas tem gente que quando transborda é pra dentro. E corre o risco de ficar represada. E represa você sabe. Se aumenta muito arrebenta.

Ator 3 – Jonas –

Mas se a pessoa ensaia um jeito de derramar pra fora. Aí vai fazendo leito. Vai abrindo seu caminho na terra. E a terra parece que se abre pra ela passar. Às vezes não.

Ator 4 – Paulo Victor

Mergulhar a palavra suja em água sanitária. depois de dois dias de molho, quarar ao sol do meio dia. Algumas palavras quando alvejadas ao sol adquirem consistência de certeza. Por exemplo a palavra vida.

Dalton Freire – Sax

Ator 1 – Beatriz

Existem outras, e a palavra amor é uma delas, que são muito encardidas pelo uso, o que recomenda esfregar e bater insistentemente na pedra, depois enxaguar em água corrente. São poucas as que resistem a esses cuidados, mas existem aquelas.

Ator 2 – Estefany

Dizem que limão e sal tira sujeira difícil, mas nada. Toda tentativa de lavar a piedade foi sempre em vão. Agora nunca vi palavra tão suja como perda. Perda e morte na medida em que são alvejadas soltam um líquido corrosivo, que atende pelo nome de amargura, que é capaz de esvaziar o vigor da língua. O aconselhado nesse caso é mantê-las sempre de molho em um amaciante de boa qualidade.

Ator 3 – Jonas

Agora, se o que você quer é somente aliviar as palavras do uso diário, pode usar simplesmente sabão em pó e máquina de lavar. O perigo neste caso é misturar palavras que mancham no contato umas com as outras.

Ator 4 – Paulo Victor

Culpa, por exemplo, a culpa mancha tudo que encontra e deve ser sempre alvejada sozinha. Outra mistura pouco aconselhada é amizade e desejo, já que desejo, sendo uma palavra intensa, quase agressiva, pode, o que não é inevitável, esgarçar a força delicada da palavra amizade.

Dalton Freire – sax

                                  Ator 1 – Beatriz

Já a palavra força cai bem em qualquer mistura. Outro cuidado importante é não lavar demais as palavras sob o risco de perderem o sentido. A sujeirinha cotidiana, quando não é excessiva, produz uma oleosidade que dá vigor aos sons. Muito importante na arte de lavar palavras é saber reconhecer uma palavra limpa.

Ator 2 – Estefany

Conviva com a palavra durante alguns dias.

Deixe que se misture em seus gestos, que passeie pela expressão dos seus sentidos. À noite, permita que se deite, não a seu lado mas sobre seu corpo. Enquanto você dorme, a palavra, plantada em sua carne, prolifera em toda sua possibilidade. Se puder suportar essa convivência até não mais perceber a presença dela, então você tem uma palavra limpa.

Ator 3 – Jonas

Uma palavra LIMPA é uma palavra possível. passeio os pés descalços sobre covas rasas

contando ossos no poema exposto

                           no sujeito do objeto

tudo isso exposto nesse papo reto

                          segue o passo norte

não leio cartas de suicídio

nem decreto de hospício

na tentação que me conforte

quero matar o genocídio

          pra não morrer antes da morte

Ator 4 – Paulo Victor

Aqui redes em pânico

pescam esqueletos no mar

esquadras  descobrimento

espinhas de peixe convento

     cabrálias esperas relento

     escamas secas no prato

       e um cheiro podre no AR

  

caranguejos explodem

   mangues em pólvora

é surreal a nossa realidade

tubarões famintos devoram cadáveres

em nossa sala de jantar

 

como levar o   barco

em meio a essa tempestade

navegar é preciso

mas está dificilíssimo navegar

Dalton Freire – Sax

                       Ator 1 – Artur

eu sou como eu sou pronome pessoal intransferível do homem que iniciei na medida do impossível

eu sou como eu sou agora sem grandes segredos dantes sem novos secretos dentes nesta hora

eu sou como eu sou presente desferrolhado indecente feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou vidente e vivo tranqüilamente todas as horas do fim.

Ator 2 – Estefany

Um homem com uma dor É muito mais elegante Caminha assim de lado Com se chegando atrasado Chegasse mais adiante

Carrega o peso da dor Como se portasse medalhas Uma coroa, um milhão de dólares Ou coisa que os valha

Ópios, édens, analgésicos Não me toquem nesse dor Ela é tudo o que me sobra Sofrer vai ser a minha última obra

Ator 3 – Jonas

meta dentro meta fora
que a meta desse trem agora
é seta nesse tempo duro
            meta palavra reta
para abrir qualquer trincheira
            na carne seca do futuro 
            meta dentro dessa meta
a chama da lamparina 
com facho de fogo na retina 
pra clarear o fosso escuro

Ator 4 – Paulo Victor

                              Deus não joga dados

mas a gente lança

sem nem mesmo saber

se alcança

o número que se quer

 

mas como me disse mallarmè

:

- vida não é lance de dedos

A vida é lança de dardos

Deus não arde no fogo

                   mas eu ardo

 

conto 13 (césar carvalho) 3ª parte

 

Dalton Freire – Sax

                         Ator 1 – Artur

A poesia Quando chega Não respeita nada. Nem pai nem mãe. Quando ela chega De qualquer de seus abismos Desconhece o Estado e a Sociedade Civil Infringe o Código de Águas Relincha Como puta Nova Em frente ao Palácio da Alvorada. E só depois Reconsidera: beija Nos olhos os que ganham mal Embala no colo Os que têm sede de felicidade E de justiça. E promete incendiar o país.

Ator 2 – Estefany

olho dentro do teu olho
para que olhe na minha cara
e cara a cara me diga
a quantas anda a nossa briga
do nosso amor pela ética

se é tão estranha a poética
de só pensar lá na frente
que até perdi a conta
nesse pretérito faz de contas
das quantas vezes
que já votei pra presidente
e o nosso país do futuro
que nunca chega no presente

Ator 3 – Jonas

Eu poderia abrir teu corpo com os meus dentes / rasgar panos e sedas / com as unhas arreganhar as tuas fendas / desatar todos os nós  / da tua cama arrancar os cobertores / rasgando as rendas dos lençóis

perpetuar a ferro e fogo /  minhas marcas no teu útero /  meus desejos imorais  /  maldizendo a hora soberana / com a força sobre humana dos mortais /  quando vens me oferecer migalha e fruto /  como quem dá de comer aos animais

Ator 4 – Paulo Victor

todo os dias

capino a esperança

escavando outras palavras

no chão desse quintal

 

e quando escrevo com enxada

                   o poema é mais real   

Dalton Freire – Sax

                                      Ator 1 – Artur    

o outubro

me deixou no tudo nada

a luz branca sem sono

em nossos corpos de abandono

 

ela arquitetava uma nesga

entre as frestas da janela

luz do luar nos olhos dela

girassóis em desmantelos

por entre poros entre pelos

minhas unhas tuas costas

Amsterdã nos teus cabelos

 

o que Van Gog me trazia

era branca noite de outono

que amanheceu sem ver o dia

nossos corpos estavam tomados

de vinho tinto e poesia

Ator 2 – Estefany

na roça desde cedo comecei a escavar palavras e separar uma das outras de acordo com o seu significado dar farelo de milho para os porcos e olhadura de cana para o gado aprendi que no terreiro não dependo de mercado e para que urbanidade se a cidade não tem paz com a enxada capinei a liberdade e descobri que ditadura        é uma palavra que não cabe nunca mais

Ator 3 – Jonas

quando escrevo e eu mesmo não entendo o significado de uma determinada metáfora lanço a maldita no vento invento outra e vou ao centro do universo e xingo teu nome: garrutio lamparão de bico kabrunco de poema           que não me dá sossego

Ator 4 – Paulo Victor

era uma vez um mangue
e por onde andará Macunaíma

(Ainda estou aqui)

na sua carne no seu sangue
na medula no seu osso
será que ainda existe
algum vestígio de Macunaíma
na veia do seu pescoço

tá no canto da sereia
no rabo da arraia
nos barracos da favela
nos becos do matadouro
na usina sapucaia?

na teoria dos mistérios

dos impérios dos passados

nas covas dos cemitérios

 desse brasil desossado?

macunaíma não me engana

bebeu água do paraíba

 nos porões dos satanazes

 está nos corpos incinerados

 na usina de cambaíba

 em campos dos goytacazes

macunaíma não me engana

está nas carcaças desovadas

na praia de manguinhos em

               são        francisco do itabapoana

Joilson Bessa me disse
Kapiducéu já ensaia
Macunaíma vem vindo
no Auto do Boi Macutraia

Dalton Freire – Sax

                              Ator 1 – Artur

diante de tudo que tenho falado despido lido escrito ser  mestre/sala   não é uma missão apenas por ter incorporado a Mocidade Independente  de Padre Olivácio em ouro preto das minas /  e não é sina / tem mais angu nesse caroço cabeça nesse prego  não nego estou metido nessa trama dos pés aos fios de cabelo em cada uma das nervuras desse osso  debaixo dos lençóis de cada cama tem segredos e mistérios que sendo revelados deixariam qualquer país em alvoroço

Ator 2 – Estefany

em vampiro goytacá

canibal tupiniquim

somos serAfim

todas nós somos

vampiras

numa página a gente transa

noutra página a     gente pira

Ator 3 – Jonas

foi-se a era de belos índios índios belos
ensinando forma de viver na amazônia
hoje a selva sangra agro negócio
soja pastos novos sócios para o gado
       paralelo

Ator 4 – Paulo Victor

vou-me embora pra girona

lá tem caminhos de sal

cheiro forte de mulher

não precisamos obedecer

as ordens de portugal

nem de um outro rei qualquer

Dalton Freire – Sax

                                Ator 1 – Beatriz

vou-me embora pra girona

aqui roubaram

tudo que eu tinha

e tem supermercado

em especial de natal

vendendo pé de galinha

vou-me embora pra girona

a carne seca no telhado

as gordas coxas da madona

o rala buxo no mercado

os grandes bailes de sodoma

nem servem mais com farinha

Ator 2 – Estefany

vou-me embora pra girona

 lá não tem matriarcado

 alegria no mercado

e um carnaval de mulher

e todas flores do mal

 são pétalas de um bem-me-quer

Ator 3 – Jonas

aves de rapina sobrevoam os céus  de brazilírica / vender é o grande jogo  dos governantes de negócios /  não é metáfora metafísica figura de linguagem / é a mais pura sacanagem /  eles dão o golpe na calada da noite /  no romper da madrugada /  vendem a coisa pública /  porque gostam da privada

Ator 4 – Paulo Victor

lady minha amada

me deixou fora da cama

a fama

lhe subiu pela cabeça

mas antes que ela esqueça

vos digo

quem foi o primeiro

a lhe oferecer abrigo?

quem foi o primeiro

a lhe dar carinho

e encher o seu aquário

de peixinhos?

Dalton Freire – sax

                   Ator 1 – Artur

irina se escondeu na pluma feito bruna se libertou da bruma e flutuou no ar voou de nova deli  a Bagdá tentou me encontrar mas foi inútil eu tinha seguido para o norte procurando a sorte que não tive aqui no sul  bati em portas de marabaia a estambul  e foi um corte que dei no tal destino e num instante meio brusco repentino rasguei os trilhos e fui  parar em Paraty federika desembestou foi pra recife  desde então nunca mais em telavive desde então nunca mais na tela vi

Irina e Federico – o primeiro encontro

 

Federico – o que é que você está fazendo aqui?

Irina – procurando o que fazer

Federico – o que fazer aqui é difícil!

Irina -  Acho não

Federico – então venha

Irina – primeiro preciso criar meu figurino e me maquiar

Federico – Nada disso, faz assim mesmo como você está

Irina – não, assim não, assim eles vão pensar que não sou ela

Federico – Ela quem?

Irina – posso ser a Serafina, Clarice Beatriz, ou qualquer outra. Só não posso ser a Rúbia Querubim porque essa é meio complicada, porque gosta de quibe de peixe

Federico – e por quê?

Irina – não gosto de quibe nem de peixe e em Iriri parece que só tem isso pra comer

Federico – você quer um espelho?

Irina – pra quê?

Federico – pra você ver como está vermelha!

Irina – ando meio assustada mesmo,  muito estranho isso aqui

Federico – Teatro do Absurdo

Irina – mas parece  que era o que eu tanto procurava. Mas não sei se realmente encontrei

Federico – Por quê?

Irina – minha mãe é muito estranha

Federico – é assim mesmo, aqui todos nós somos estranhos somos vampiros serafins

Irina – uma ora ela é clarice e de repente beatriz, e não tem nada a ver uma com a outra, não se parecem nem um pouco, isso quase me  pira

Federico – mas aqui numa página a gente transa noutra página a gente pira

Irina – mas isso pra mim é muito novo e chega a ser pirante mesmo

Federico -ah! relaxa e goza, que as metáforas de uma cruel realidade são sempre mais reais

Irina – então deixa eu ir ali me maquiar

Federico – precisa não transa assim mesmo

Irina – transa? Como assim?

Federico – aqui transa é trabalho, quando mais a gente transa mais experientes ficamos

Irina – você é experiente?

Federico – acho que sim , pelo menos é o que dizem por aí?

Irina – ah, então quero trabalhar com você. Vou criar um figurino massa e uma maquiagem vampiresca quero me tornar a grande vampira serafim na grande aldeia do canibal tupiniquim

Federico – então vai quero ver você nessa vampirinha serafina pra Macunaíma nenhum colocar defeito

Irina – Macunaíma? Quem é ele?

Federico – é o nosso herói sem nenhum caráter

Irina – como assim?

Federico – é porque ele é uma mistura quase assim como a clarice/beatriz, sua mãe, e a gente pra entender mesmo quem ele é temos que procurar muito, e mergulhar profundamente numa leitura sobre o povo brasileiro, da mesma forma como fez Darcy Ribeiro.

Irina – mas isso dá muito trabalho?

Federico – Mas tudo que a gente faz aqui é parte do trabalho

Irina -  pois então, já vou – (abraça federico afetuosamente simula um beijo, olha olho no olho, é agora ainda não, e sai de cena)

Federico – vou ficar aqui orando pra ela voltar – como poesia devoro pra matar a fome, quando oro o prazer tem outro nome 

                        Ator 2 – Estefany

“hoje não tem fernando pessoa”

                   Nem Caetano Veloso

meu corpo não trafega

escandaloso

meu coração não se entrega

às  tabacarias de lisboa

o poema pode ser

um beijo nessa pedra

antes que me fedra

o poema voa

Ator 3 – Jonas

carinhosamente

bebo os olhos teus

pra matar a sede

e aflição dos meus

toda água desse rio

beberia eternamente

pois a minha sede

não se mata de repente

é paixão que não tem hora

pra poder chegar

barco que vai embora

sem saber voltar

navegando mar inteiro

vales rios velas cais

pois a sede dos meus olhos

não se mata nunca mais

Ator 4 – Paulo Victor

              irina não voronkova

mesmo sendo a rainha

do time de volley

da mocidade independente

de padre olivácio

pastor de andrade o devasso

está de olho nela

mato aquele desgraçado

se eu o pegar no -  compasso

olhando novamente

pela fresta da janela

 Dalton Freire – Sax

             Artur e Estefany – A mulher que matou os peixes

Teatro do Absurdo – A Mulher Que Come Livros

A Mulher Que Matou os peixes

(cena com Federico Baudelaire/Artur Gomes  e Irina/Estefany Nogueira  )

 *

Federico - ei vai pra onde?

Clarice – vou ali terminar de comer meu livro

Federico – come aqui mesmo

Clarice – então para de me fazer perguntas

Federico – não posso

Clarice – não pode por quê?

Federico – porque sou curioso

Clarice – curiosidade mata

Federico – você é a mulher que matou os peixes?

Clarice – na outra vida, outra encarnação

Federico – e você acredita nisso?

Clarice – claro que acredito, tanto é que estou aqui. E agora não mato peixes, agora como livros. E para comer livros não preciso matar, basta guardar, preservar, para ler na hora que tenho vontade.

Federico – mas por quê você tem vontade de comer livros?

Clarice – para me enriquecer de conhecimentos, informações, ter contato com os sentimentos dos outros e as suas visões de mundo.

Federico – mas isso a gente encontra no carnaval – no desfile das Escolas de Samba por exemplo

Clarice – mas eu já lhe disse, detesto carnaval

Federico – Isso porque você nunca viu. Nunca foi na marquês de Sapucaí

Clarice – não muda de assunto não, e acho bom você me deixar terminar de comer meu livro

Federico – a fome é tanta assim?

Clarice – fome, sede, desejo tudo junto misturado

Federico – você não sabe fazer outra coisa não?

Clarice – procuro... procuro mas não encontro, outra coisa que me dê tanta satisfação como come livros! E acho que você deveria fazer o mesmo.

Federico – tá doida. Era só o que me faltava eu um Mestre Sala da Mocidade Independente de Padre Olivácio a Escola de Samba Oculta no Inconsciente Coletivo, comendo livro!

Clarice – e qual é o grande problema nessa questão, eu por exemplo. Já matei os peixes, hoje como livros. Não vejo nenhuma contradição. Porque você que se diz mestre/sala não pode comer um livro?

Federico – simplesmente porque gosto do movimentos dos corpos sambando na avenida

Clarice – mas isso é muito pouco – eu gosto de comer livros porque cada coisa tem o instante em que ela é, e eu quero me apossar do é da coisa. E para mim corpos em movimento na avenida não significa coisa alguma. Não vejo graça nenhuma em carnaval.

Artur - quero dizer que ainda arde tua manhã em minha tarde a tua noite no meu dia tudo em nós que já foi feito com prazer inda faria

quero dizer que ainda é cedo ainda tenho um samba-enredo e tudo em nós é carnaval é só vestir a fantasia quero ser teu mestre-sala e você porta/bandeira quando chegar na quarta-feira a gente inventa outra fulia

 Estefany – tá doido

                              Ator 1 – Artur

fosse esta menina Monalisa

ou se não fosse apenas brisa

diante da menina dos meus olhos

com esse mar azul nos olhos teus

não sei se MichelÂngelo

Da Vinci Dalí ou Portinari

te anteviram

no instante maior da criação

pintura de um arquiteto grego

quem sabe até filha de Zeus

e eu Narciso amante dos espelhos

procuro um espelho em minha face

para ver se os teus olhos

já estão dentro dos meus

 

eu te desejo flores

lírios brancos margaridas

girassóis

rosas vermelhas

e tudo quanto pétala

asas estrelas borboletas

alecrim bem-me-quer e alfazema

eu te desejo emblema

deste poema desvairado

com teu cheiro

teu perfume

teu sabor, teu suor

tua doçura

e na mais santa loucura

declarar-te amor até os ossos

eu te desejo e posso

palavrArte até a morte

enquanto a vida nos procura

 

The End


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