o homem com a flor na boca
era uma vez
um tempo de espera
nem era primavera
uma rosa vermelha
encravada entre os dentes
colocou a rosa entre as coxas
me pediu que entrasse
sem receio dos espinhos
na vitrola um disco de
cartola
ficamos a noite inteira
escrevendo em pergaminhos
esperando que a rosa falasse
mas “as rosas não falam”
e me disse:
uma vez e basta
e a fome de carne continua madrasta
Artur Fulinaíma
in Vampiro Goytacá
leia mais no blog
Divina Comédia
tenho memória de elefante como diz Leminski com sua dor elegante como se chegando atrasado chegasse mais adiante cheguei em bento mais um vez pensando beatriz que certa vez me disse querer aprender a falar poesia comigo encenamos no cachorro louco bar na cidade alta era 1996 fazia tempo não a via desde que entreguei-lhe brazilírica pereira a traição das metáforas com o poema/registro de tudo que ainda não fizemos era outubro de 2002 mas nesta noite ela foi ao jantar de abertura do congresso brasileiro de poesia saíamos cantando dançando falando até a porta do vinocap hotel onde me hospedava não consegui arrancá-la das entranhas do couro cru da carne viva nua e crua da medula da memória se for pensar em grego é tragédia mas daqui adiante ela é quem pode bem melhor do que eu escrever o desfecho da comédia o divino dessa história
Artur Kabrunco
In Vampiro Goytacá
leia mais no blog
chico city
é um pequeno perímetro urbano
desmatado
para receber plantações
de abacaxi e aipim
ai de mim viver assim
entre o pasto e o agronegócio
não sou sócia desta praga
esta vida me atormenta
está me deixando loka
minha língua tem pimenta
pra arder na tua boca
Federika Lispector
in Vampiro Goytacá
leia mais no blog
https://fulinaimacentrodearte.blogspot.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário