terça-feira, 18 de junho de 2024

múltiplas poéticas

 Jura secreta 3 


fosse essa jura sagrada 
como uma boda de sangue 
às 5 horas da tarde 
a cara triste da morte 
faca de dois gumes 
naquela nova granada 
e Federico Garcia Lorca 
naquela noite de Espanha 
não escrevesse mais nada 

 

Artur Gomes

Poema do livro Juras Secretas

Editora Penalux - 2018 

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não sou eu mas parecia e ser bem que poderia soube que um poeta em sampa está a me olhando com olhos de desejos que me arrepiam atiçando as tentações faço de tudo para que Baudelaire não saiba pois do jeito que o Federico anda ultimamente é capaz de me esganar se desconfiar desses olhares de fogo

Rúbia Querubim
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           a cidade dos sonhos

sonhei que estava descendo em uma cidade desconhecida que nunca tinha ido e tinha uma menina me esperando - mas não consegui identificar que cidade era e nem a menina consegui reconhecer procurei na fotografia não encontrei aviste um oceano Atlântico fui à beira mar e acordei

 

Artur Fulinaíma

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 Jura secreta 2 


não fosse esse punhal de prata 
mesmo se fosse e eu não quisesse 
o sangue sob o teu vestido 
o sal no fluxo sagrado 
sem qualquer segredo 

esse rio das ostras 
entre tuas pernas 
o beijo no instante trágico 
a língua sem que ninguém soubesse 
no silêncio como susto mágico 
e esse relógio sádico 
como um Marquês de Sade 
quando é primavera 

 

Artur Gomes

Poema do livro Juras Secretas

Editora Penalux - 2018

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 O chão que nos espera

 

tem pessoas que ainda gostam de fantasias ilusões ideias que não cultivo mais a pedra pólen inda me guia quando admiro céus sóis estrelas luas cheias vez em quando pedalo até a praia a procura de ouvir o canto da seria à beira mar yemanjá e continuo caminhando nesse chão que nos espera poesia além da morte bem pra lá dos girassóis para encontrar nas pradarias a  orelha de van  gog  e seu instante em desespero não espero muito como alguém que do outro lado do oceano me espera

 

Artur Gomes

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Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim

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O Homem Com A Flor Na Boca

 

O ator, produtor, videomaker e agitador cultural Artur Gomes acumula uma bagagem de 50 anos de carreira com prêmios nacionais e internacionais em teatro, música, literatura e artes gráficas. Gomes poderia se filiar na tradição literária dos chamados poetas malditos, como comumente e simplistamente nos referimos àqueles autores que constroem uma obra “rebelde” em face do que é aceito pela sociedade, vista como meio alienante que aprisiona os indivíduos em normas e regras. Tais autores rejeitam explicitamente regras e cânones. Rejeição que  manifesta-se também, com a recusa em pertencer a qualquer ideologia instituída. A desobediência, enquanto conceito moral exemplificado no mito de Antígona é uma das características de tais sensibilidades poéticas, que no Brasil já vem de longe com um Gregório de Mattos e ganhou impulso e seguidores com o famoso trio da “parafernália” rebelde: Verlaine, Baudelaire e Rimbaud.

      Já tivemos oportunidade de observar em outras obras do autor, que suas construções poéticas seguem sempre renovadas para cima em matéria de criatividade, elencando uma variada diversidade temática que aborda, sempre em perspectiva ousada e radical, desde o doce e suave sentido do amor, ao cruel da relação amorosa, flertando com o libidinoso, e questões existenciais que expressam indignação, desobediência e transgressão.

 É que, explica ele: “arde em mim / um rio / de palavras / corpo lavas erupção / mar de fogo / vulcão”.  Outra faceta do autor, digna de nota, é a criação de vários heterônimos como sejam Federico Baudelaire, EuGênio Mallarmè ou Gigi Mocidade, talvez a mais irreverente de todos, porque fala a bandeiras despregadas, sem papas na língua. “Muitas vezes a língua pulsa pula para o outro lado do muro outras vezes a língua pira punk nesses tempos obscuros às vezes a língua Dada vai rolando dados nesse jogo duro muitas vezes a língua dark jorra luz nas trevas desse templo escuro”. 

E aqui temos afinal, mais uma obra desse múltiplo e incansável poeta que caminha com uma flor na boca, símbolo universal de amor, de paz e beleza. A ele não importa verdadeiramente por quais meios: “se sou torto não importa / em cada porta risco um ponto / pra revelar os meus destroços / no alfabeto do desterro / a carnadura dos meus ossos”. 

É poética que, para além de perquirir as dores e delícias da condição humana em si, envereda pelo viés de nossa condição social sempre ultrajada. Encontramos um poema que nos pergunta: “quem se alimenta / dessa dor / desse horror / desse holocausto // desse país em ruínas / da exploração dessas minas / defloração desse cabaço // quem avaliza o des(governo / simboliza esse fracasso?” 

Artur Gomes segue sua árdua caminhada, agora com o poderoso concurso da maturidade que lhe chega. Segue emprestando sua voz aos deserdados, aos desnutridos, aos que têm sede, aos que têm fome, ou aos que morrem assassinados nos guetos, nos campos, nas cidades por balas de fuzil, desse país que tarda em referendar a cidadania.

Krishnamurti Góes dos Anjos - Escritor e crítico literário

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redes sociais

 

depois de tanto amor

apenas um oi

como uma foice

me corta do face

mostra a outra face

sem nenhum receio

não sei pra  onde vai

nem de onde veio

 

Artur Gomes

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Balbúrdia PoÉtica

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Jura Secreta 


não fosse essa jura secreta 
mesmo se fosse e eu não falasse 
com esse punhal de prata 
o sal sob o teu vestido 
o sangue no fluxo sagrado 
sem nenhum segredo 

esse relógio apontado pra lua 
não fosse essa jura secreta 
mesmo se fosse eu não dissesse 
essa ostra no mar das tuas pernas 
como um conto do Marquês de Sade 
no silêncio logo depois do susto
 

 

Artur Gomes

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voragem

para ferreira gullar - in memória

não sou casta
e sei o quanto custa
me jogar as quantas
quando vejo tantas
que não tem coragem
presa a covardia

eu sou voragem
dentro da noite veloz
e na vertigem do dia

 

 

Rúbia Querubim

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Vampiro Goytacá

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II Festival Cine Vídeo Poesia

Studio Fulinaíma Produção Audiovisual

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muito em breve sessões presenciais

aguardem mais informações

Fulinaíma MultiProjetos – KINO3

Curadoria: Artur Gomes, Jiddu Saldanha e Tchello d´Barros

Contatos: fulinaima@gmail.com – 22 99815-1268 – zap

Siga no instagram

@fulinaima - @artur.gumes

 

com uma câmera nas mãos

um poema na cabeça

vamos filmar o poema

antes que desapareça

II Festival Cine Vídeo Poesia

Na página Studio Fulinaíma Produção Audiovisual no facebook

Se você tem vídeo com poesia de até 5 minutos – envie-nos para avaliação

através do zap 22 99815-1268 – ou pelo e-mail fulinaima@gmail.com

Fulinaíma MultiProjetos – KINO3

Curadoria: Artur Gomes, Jiddu Saldanha e Tchello d`Barros

 

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Oficina de Poesia Falada

 

           Oficina de Poesia Falada

            escrita criativa criação e interpretação

                     Teatro Multilinguagens 


sábados das 14 às 16h

Direção: Artur Gomes e Paulo Victor Santanna

Local - Anfiteatro do Palácio da Cultura

Campos dos Goytacazes-RJ e durante a semana no grupo da Oficina 

no zap – 22 99815-1268

Realização: Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima – Prefeitura de Campos

 

PoÉtika

 

Eu Sou Drummundo

e me confundo

na matéria amorosa

posso estar na fina/flor da juventude

ou atitude de uma rima primorosa

ou até na pele/pedra

quando me invoco baratino

então provoco um barafundo

cabralino

e meto letra no meu verso

estando prosa

e vou pro fundo

do mais fundo

o mais profundo mineral

Guimarães Rosa

 

Artur Gomes

Poema do livro Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

 

Entredentes 3

Clique no link para ver o vídeo

https://www.youtube.com/watch?v=HOYnqPlINXM

domingo, 9 de junho de 2024

múltiplas poéticas

porque hoje é 12 de junho véspera de 13 quando se comemora o dia  de Santo Antônio o Santo Casamenteiro

 

Jura Secreta 14 


eu te desejo flores lírios brancos 
margaridas girassóis rosas vermelhas 
e tudo quanto pétala 
asas estrelas borboletas 
alecrim bem-me-quer e alfazema 

eu te desejo emblema 
deste poema desvairado 
com teu cheiro teu perfume 
teu sabor teu suor tua doçura 

e na mais santa loucura 
declarar-te amor até os ossos 

eu te desejo e posso : 
palavrArte até a morte 

enquanto a vida nos procura  

 

Artur Gomes

Juras Secretas –

Editora Penalux 2018

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Nesta próxima segunda-feira passarei o dia na Casa de Cultura poeta Antônio Silva em Conselheiro de Josino, atendendo ao  convite do seu coordenador, Helder Rangel, para conversar sobre Arte, com os alunos da Casa e falar poesia.

 

 e ela vai pintando

 o homem com a flor na boca

 com seus pincéis de aquarela

 poema que só é possível

pelas lentes dos olhos dela

 

Artur Gomes

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O Homem Com A Flor Na Boca


 Privatize-se tudo!”

A mim parece-me bem.

Privatize-se Machu Picchu, privatize-se Chan Chan,

privatize-se a Capela Sistina,

privatize-se o Pártenon,

privatize-se o Nuno Gonçalves,

privatize-se a Catedral de Chartres,

privatize-se o Descimento da Cruz,

de Antonio da Crestalcore,

privatize-se o Pórtico da Glória

de Santiago de Compostela,

privatize-se a Cordilheira dos Andes,

privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu,

privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei,

privatize-se a nuvem que passa,

privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno

e de olhos abertos.


E, finalmente, para florão e remate de tanto privatizar,

privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez

a exploração deles a empresas privadas,

mediante concurso internacional.

Aí se encontra a salvação do mundo…


E, já agora, privatize-se também

a puta que os pariu a todos.

 

– José Saramago, em “Cadernos de Lanzarote – Diário III”. Lisboa: Editorial Caminho, 1996

                                  *

           Liberdade plena

Nós temos sempre necessidade de pertencer a alguma coisa; e a liberdade plena seria a de não pertencer a coisa nenhuma.
Mas como é que se pode não pertencer à língua que se aprendeu, à língua com que se comunica, e neste caso, a língua com que se escreve?
Se o leitor, o leitor de livros; aquele que gosta de ler, não se limitar àquilo que se faz agora, se ele andar para trás e começar do princípio, e poder ler os primitivos e os grandes cronistas e depois os grandes poetas, a língua passa a ser algo mais que um mero instrumento de comunicação, transformando-se numa mina inesgotável de beleza e valor.

                                 José Saramago


II Festival Cine Vídeo Poesia

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“ODE À PINDORAMA CONTEMPORÂNEA”

Manifesto brasiliano extemporâneo

 

(Videoperformance de Tchello d’Barros)

 

 

SINOPSE   

“O espírito da Semana de Arte Moderna é evocada cem anos depois, nesta performance de Tchello d'Barros, realizada na mesma escadaria do Theatro Municipal de São Paulo, onde os modernistas há um século mudaram a história da arte no Brasil.  

 

REALIZAÇÃO

"Ode à Pindorama" foi realizado c/ Produção da Fluxo Filmes, Cinegrafia de Marvil Sertori, Edição de Jozefo Roza, com Texto, Atuação e Direção de Tchello d'Barros.

                  

FICHA TÉCNICA

Gênero: Videoperformance

Categoria: Livre

Cor: Sépia

Duração: 14:50 Min

Extensão:.MP4

Arquivo: 506 MB

 Formato: 1920 X 1080

Ano: 2022

Local: São Paulo, Brasil

Realização: Fluxo Filmes

Assista no Youtube, aqui: https://www.youtube.com/watch?v=dM5jcmjPXt0

 

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ODE À PINDORAMA CONTEMPORÂNEA

Manifesto de 2022 | Tchello d’Barros

 

I - Brasilianíssimas

 

Minha terra é brasilíada, brasidílica, brasilinda! Minha terra é mais que garrida, tem mais que palmeiras: aqui é Pindoramagia!

A descoberta desse Brasil é diária. A conquista, também.

Aqui tem pau-brasil, pau brasino de brasido e brazedo: brasilivre de orlas infindáveis, inefáveis. Terras virgens que guardam pegadas de curupiras, matas de matintas e florestas de mapinguaris.

Aqui tudo que se planta dá e recebe a dar com o pau. É lugar de flora melíflua, flores ebúrneas, pétalas ebóreas, inflorescências arborescentes.

Olores de eflúvios oníricos e semeadura de revolução que germina em conquistas do povo, da pólis, de todos.

A esperança está na brisa, em flagrante fragrância que poliniza, poesia que prolifera, verve que poliflora.

Bem-vindos a esta nação de ritos: de Torés transcendentes, de Cruzes redentoras, de Terreiros libertários.

 

II - Entre Pasárgada e Ilha de Utopia

 

Uma criança desenha a palavra amor na areia clara da praia de Itamaracá.

As sombras das casas nos povoados e vilas de nosso Brasil profundo, crescem no poente, formando palavras como: recanto, idílio e paraíso. Óbidos, Blumenau e Olinda.

Nesses costados tisnados de sagas e sinas e destinos é que o Sol nascente encontra primeiro a América menos americana das Américas.

Essa terra tem dono sim senhor: tem perímetros e pontos cardeais, mas as fronteiras são de brindes, sorrisos e abraços.

 

Brasilíada, daqui e de lá: do Arroio do Chuí, no Sul, ao Monte Caburaí no Norte; da Nascente do Rio Moa no Oeste à Ponta do Seixas no Nordeste. Aqui a bússola da liberdade se desenha no ir e vir da rosa dos ventos elíseos.

Territórios de floreiras, campos e clareiras, ilhas e redondilhas de praias, areias, ondas e ondinas: tem surf na pororoca e mergulho no Pantanal. Escalada no Monte Roraima e neve em Brunópolis. Desde navegações pelo Rio Madeira a jornadas pelos Caminhos do Peaberú. 

Nossos rios são ruas de ontens e amanhãs: fluem no dia de hoje em nossa brasilianíssima parcela planetária.

Os afluentes do Amazonas tingem o sangue debaixo da derme. O cume do Pico da Neblina tange a tessitura de nossa pele. Os cimos da Serra do Rio do Rastro plasmam nosso corpo que dança e luta.

Essa terra evoca batalhas por independências, conquistadas com braço forte e justiça social como norte. Seguem velozes os voos das flechas de Tiaraju, Cunhambebe e Arariboia.

Nosso ir e vir é tal, que chega a ser continental.

Trem, nem sempre tem, mas sempre tem quem te quer bem!

 

III - Minha casa é seu mundo e minha gente é seu povo

 

Terra Papagalli: Somos de Pindorama. Abya Yala é aqui também. Dos ancestrais aos originários, dos que vieram antes, de outros quadrantes, depois de tudo, somos brasilianos de terra antiga em novo mundo.

Uma icamiaba virgem, esculpe em jade um novo Muiraquitã, sob um sorriso silente de Iara à luz do luar.

Nossa esperança vibra à flor do pelo, e nossa pele é tanta, de tinta retinta, preta, parda, morena, indígena, branca, de todos os tons: somos mescla em matizes e matrizes misturadas na paleta da vida.

A genética plural que nos modela, cromossômica e helicoidal, constrói em uníssono um vocábulo rizomático: equidade na alteridade e diversidade na democracia.

Na orla de Coruripe, o caiçara e o gringo singram na mesma jangada. Em Floripa, o nativo e o universal bebem juntos a cachacinha de alambique em cumbuca de argila. No Cerrado, o mestiço e o cosmopolita lançam a mesma rede no Lago Paranoá.

Nossa lei se chama Paz.

Nossa bandeira se chama Amor.

Nosso hino é alento e acalanto.

Nosso corpo tem cicatrizes mas nossa alma é de festa.

Por aqui, somo um povo manso: tacape na opressão, borduna no autoritarismo e zarabatana no fascismo.

Em nosso lugar de fala, de reza e de vida, fazemos contas com miçangas e terabytes:

Eu + tu = nós.

Nós + eles = minha taba é local, nossa aldeia é global.

Aqui a soma resulta sempre mais: sempre cabe mais um. Nessa equação, mais que dividir o bolo-de-rolo, multiplica-se o vinho, e também o café, e ainda o tacacá.

A coragem, rebeldia e subversão nos constituíram com as lutas por liberdade, desde Zumbi, Calabar, Anita Garibaldi, Olga & Prestes, Lamarca, Marighella, Niemayer. Forças que ainda reverberam em todos nós, por todos nós!

Aos forasteiros imantados pela magia daqui, nosso grito primal: vinde e somai!

 

 

IV - Pluralidades da arte

 

Brasil de vasto mapa: mapeadas a memória, a tradição e o folclore, como arte vivaz na contemporaneidade.

Na palavra espontânea do repentista, as entrelinhas de um tratado filosófico. No movimento circular da dançarina de Lundu, a lição do sentido da vida. No semblante do brincante de Boi Bumbá, a ideologia que contagia com magia.

A norma culta e a fala dita erudita, brindam abraçadas com os sotaques diversos e os falares populares dessa gente que tem o que dizer e sabe o que quer.

Toda filosofia estética cabe no olho que hoje sorriu ao avistar uma canoa no Rio Acre. Toda teoria poética cabe na voz do gaudério que entoa uma milonga na invernada. Toda ode antropológica cabe na dança do Xokleng que invoca seus ancestrais.

A arte visual pulsa em batimentos inefáveis: seja na ruptura disruptiva das cores de um cocar em Parintins, seja nas nuances frias de uma rede tecida manualmente em Fortaleza, ou ainda nas tonalidades quentes do bordado em um florido vestido na Oktoberfest.

Nesse país telúrico, tem rabo-de-arraia na Capoeira de Angola em Itaparica. Tem ginete com potro chucro corcoveando em Barretos. E peregrinos que vem de longe ao Círio de Nazaré.

Além do além: somos imersos em lindas lendas, contos curtos e causos tantos.

Yes, nós temos Carnaval! Aqui carnavalizamos a vida, invertemos os poderes instituídos e trocamos os papeis sociais. Sempre com ginga no pé, ritmo na bateria e muita arte na fantasia.

 

V - Devorar linguagens para regurgitar cultura

 

Nesse limiar em que o Atlântico nos encontra e nos encanta, em que a linha do Equador nos atravessa ao avesso, em que os ventos andinos nos alcançam: somos a herança das revoluções da América do Sol, do Sul do orbe, do céu mais azul.

Somos entretecidos em conquistas que nos formam, entrelaçados em utopias que nos transformam.

Seguimos antropofágicos-antropomágicos. Aqui, ainda devora-se o Sardinha, e com tempero mineiro, iguarias baianas e ervas paraenses. Ao digerirmos sabores da terra, deglutimos saberes do mundo.

Sim: ainda bebemos cauim. Degusta-se axé de fala, graspa, garapa e chimarrão.

Nossa fé mais profunda, oblitera as sanhas oligarcas: antigos impérios patriarcais, clãs opressores e dinastias totalitárias aqui cedem lugar a solidariedades comunitárias, canções conjuntas e partilhas do pão entre iguais.

Ainda há espaço para desideratos: sonhos coletivos que desenham-se nas redes do pescador, há desejos amorosos no rasto da canoa, há mistério no tapete de estrelinhas alvacentas que o luar tece sobre a foz do Velho Chico.

Aqui a sanha capitalista foi devorada e regurgitada como pacto social.

A elite não é eleita: da política poética à ética pacífica, da verve artística ao idílio utópico.

Fora fardas! Fora fardos! Fora feudos! Fora fraturas de futuros!

Adeus tropas, patrulhas e pelotões! Bem-vindos folguedos, tertúlias e saraus!

 

VI - Do lado certo da história

 

Em nosso brasão brasilaico dentro do coração, permanecem o verde-amarelo, tanto quanto o vermelhusco coruscante, rubro encarnado da brisa que acende a brasa.

Na tela branca, uma pintura que se plasma na diversidade: um porvir em pinceis de utopia, tintas do arco-íris e as nuances da pluralidade existencial. 

O vizinho ao lado e do outro lado do mundo, nos fortalecem, pois nossas ruas são parte da pátria, somos estradas sem fim. Quem nos visita, em lume ou rima, sublime se ilumina.

Eis que a (r)evolução já aconteceu. E, contamina, penetra, expande, pois a senha de nossa cidadania chama-se: afetividade!

Nosso estar no mundo contagia, sutilmente poliniza outras pólis, outros povos, mundo afora, Brasil adentro.


Ode À Pindorama

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múltiplas poéticas

  Jura secreta 3   fosse essa jura sagrada  como uma boda de sangue  às 5 horas da tarde  a cara triste da morte  faca de dois gumes  naquel...